TEATRAIS






A NOVA CHAPEUZINHO
HORA
DO
ALMOÇO
NA FLORESTA...

MARIA HELENA CRUZ





PERSONAGENS:
LUCIANA:
Menina de gestos delicados, vestida com roupas que lembrem Chapeuzinho Vermelho, mas de outra cor;
JONAS RAPOSA:
Uma raposa esperta, esfomeada e muito medrosa.
LEILA:
A “Onça Rainha” da floresta;
CÉLIO O CERVO:
Um filhote muito animado e atrapalhado;
MÃE CORSA:
A presa favorita do caçador e mãe de Célio o cervo;
CAÇADOR:
Caçador maluco, sempre atrás de um troféu;
SÁBIO COBRA:
Uma cobra “sabichona”, que de sábia não tem nada;
MORCEGO JULIÃO:
Um morcego muito amigável e inteligente;
MÃE DE LUCIANA:
Carinhosa e “cozinheira”.
EMBORA HAJA NOVE PERSONAGENS, A PEÇA PODERÁ SER APRESENTADA COM ELENCO, A PARTIR DE 4 ATORES.

O CENÁRIO DEVERÁ, SIMPLESMENTE,  LEMBRAR UMA FLORESTA.


    Luciana, de cesto na mão, passeia pela floresta cantando,  colhendo algumas flores:

      “Alecrim, alecrim dourado
      Que nasceu no campo
       Sem ser semeado

      Foi meu amor
      Quem me disse assim        
      Que a flor do campo
      É o alecrim

      Alecrim, alecrim miúdo
      Que nasceu no campo
      Perfumando tudo

      Alecrim do meu coração
      Que nasceu no campo
      Com essa canção”
  
LUCIANA:        
       - Ah, que dia mais lindo!- diz ela - Mamãe vai adorar as flores que colhi para enfeitar a mesa... – a menina põe a mão no ouvido, para tentar ouvir melhor - Hei... Que barulho estranho é esse?... Acho que ouvi outra vez... Essa não! Minha barriguinha está roncando feito um leão. Huuummm! Já deve ser hora do almoço e estou com uma fominha.

   

    Uma voz misteriosa repete as palavras de Luciana:

          

     - Huuummm! Já deve ser hora do almoço e estou com uma fominha!

    

       A raposa dá um salto e se põe a andar sorrateiramente em torno da menina, que assustada, senta-se no chão e se encolhe erguendo o cesto para encobrir o seu rosto, perguntando:


LUCIANA:
      - Quem é você e o que está fazendo aqui?

     E a raposa responde:
  JONAS: 
      - Ora, eu sou Jonas Raposa e “rei da floresta”, e a floresta é minha casa. O que “você” está fazendo aqui?

      Luciana fica um pouco confusa:

 LUCIANA:
      - Mas eu nem sabia que havia rei na floresta.

JONAS:
      - Pois tem e ele... Digo, eu é quem mando por aqui. Agora me diz, o que uma menininha como você, faz sozinha na floresta?

      Muito educada, ela se apresenta:

LUCIANA

      - Meu nome é Luciana. Eu vim à floresta para pegar flores. Vou levar para a minha mãe enfeitar a mesa para o almoço...

      Jonas, com o olhar vidrado na menina se assanha:

JONAS:
       - ALMOÇO!? Isso me lembra que estou com tanta fome, tanta fome, que seria até capaz de comer uma menininha.

LUCIANA:
       - AAAAAHHHHHH! – grita ela, correndo de um lado para o outro - Não, não faça isso senhor raposa! Você não pode me comer.

JONAS:
       - É claro que posso! Eu sou o rei da floresta e no meu reino posso tudo...

LUCIANA:
      - Sabe o que é senhor Jonas Raposa... É que minha carne é muito dura. O senhor não iria gostar.

JONAS:
     -  Que nada! Um filhote como você, deve ter a carne no ponto. Do jeitinho que eu gosto.

        Ai, ai! A menina foge das investidas da raposa ainda tentando convencer:

 LUCIANA:
-          Mas senhor Jonas Raposa... Assustada como estou, minha carne já deve estar amarga, de tanto medo.

JONAS:     
       - Agora chega. Você será o meu almoço e pronto. Sou o rei e como tal, posso comer o que eu quiser e como eu quiser...    
                                      
       Então uma grande onça interrompe a conversa, parecendo muito irritada com o tal rei:
        
LEILA:     
      - Quem é rei da floresta?

       Jonas se encolhe todinho... Muito amedrontado e tentando se explicar:

JONAS:
       - Ehhh... Olá Leila, acordada há esta hora.

       Leila, a onça, fala ainda bocejando e a passos preguiçosos:

LEILA:
       - Acho que o lanchinho matutino não me fez bem, mas voltando as vacas magras, que história é essa de rei?

      Luciana, muito esperta, se aproveita da discussão para fugir, enquanto os dois bichos continuam:

JONAS: 
             - Rei... Que rei??? Ora Leila, você entendeu errado. Eu estava dizendo que quem manda aqui na floresta, é nossa grande rainha Leila.

LEILA:
       - Espero que seja isso mesmo ou então... Hei... Onde está a menina? Veja o que fez! Espantou meu almoço.

A fome acaba trazendo alguma valentia ao pobre Jonas:

JONAS:
      - Seu almoço? Ela estava em minhas patas e “você” a espantou...

LEILA:
      - Está brincando, não é? Uma iguaria como aquela só pode ser degustada pela criatura mais importante da floresta, ou seja, eu!

      A raposa, faminta,  tenta manter a valentia:

JONAS: 
     - Você? Ora, eu... – Leila se aproxima dele ameaçadoramente e ele... –... É claro... Esta iguaria só pode ser degustada por você, não é mesmo?

LEILA:
       - Vamos logo! Vamos pegar meu almoço.    


       Não muito longe, Luciana perambula pela mata, muito assustada:

LUCIANA:
        - Essa não! Fiquei com tanto medo e com tanta pressa de escapar daqueles bichos malucos, que acabei perdendo o caminho de casa. O que faço agora?
      
   Ela se deita no chão, chorando de soluçar.

    De olhos bem fechados, ela sente a presença de alguém. Uma mulher com um vestido longo e ares angelicais se aproxima de Luciana e afaga seus cabelos. A menina levanta a cabeça e a vê:

LUCIANA:
   - Mamãe...

MÃE DE LUCIANA:
   - Olá minha querida, por que chora tanto?

LUCIANA
   - É que eu estava tão perdida, tão sozinha, com tanta fome e com tanto, tanto medo...

MÃE DE LUCIANA:
   - Você não está sozinha... Não vê? Olhe ao seu redor. Há tantos amigos a sua volta! Você só precisa olhar com seu coração.

LUCIANA:
   - Mas estou com tanto medo!
 MÃE DE LUCIANA:
   - Todos sentimos medo, mas não podemos deixar de seguir em frente, não é?

LUCIANA:                
  - Que bom que está aqui! Agora não estou mais com medo...

MÃE DE LUCIANA:
   - Eu sempre estou aqui... - ela aponta em direção ao coração da menina e depois de seu próprio coração -... Da mesma forma que você sempre está aqui...
         
     A mãe afaga novamente os cabelos de Luciana, que se deita no chão outra vez e fecha os olhos, depois some outra vez.
           
     A menina está ainda soluçando, deitada no chão, com os olhos fechados, quando gritos desesperados, faz  ela se levantar espantada. Procura que procura e acaba encontrando um animalzinho todo enrolado, preso em arbustos: 
   
CÉLIO O CERVO:
      - Socorro, socorro! Alguém me tire daqui, por favor. Socorro!

LUCIANA:    
     - Calma! Calma! Pare de gritar, que já tiro estas coisas de você...

           Enquanto Luciana desenrola os arbustos do cervo, acaba se enrolando neles e antes que termine, ela ouve um estouro. Luciana pensa ser um trovão, olha  para o céu e não vê uma nuvem se quer, e quando o estouro acontece de novo, uma corsa aparece e, correndo em volta das crianças, gritando em desespero:
 

MÃE CORSA:
    - Célio meu filho, corra. Corra meu filho, corra.

     A corsa vai embora, tão rápido quanto chegou, mas o cervo antes de ir, tenta desenrolar a menina, que não entende o que está acontecendo:

LUCIANA:
     - O que está acontecendo? Tanta gritaria por causa de um trovão?

CÉLIO O CERVO:
     - Que trovão que nada!- diz o cervo - O que vem vindo aí não é chuva não. É um caçador que está sempre pela floresta, atrás de nossas cabeças...
    
      Antes que a menina pergunte mais alguma coisa, o cervo também se vai e um caçador surge à espreita. Os animais, atrás de árvores e arbustos, se encolhem para ficar ainda mais escondidinhos. A menina também tenta se esconder se embaraçando nos arbustos que tirou do cervo, mas não adianta muito. O caçador aponta sua arma para ela:

CAÇADOR:
      - Mas que tipo de bicho é você?
  
       Luciana, que está sentada no chão, com as mãos em volta dos joelhos e os olhos fechados, se mantém assim por algum tempo. Então abre um olho, depois o outro olho e, já se controlando, se levanta, sacode os arbustos de suas roupas, deixando apenas um ramo na cabeça, parecendo uma cabeleira verde.
   
    CAÇADOR impaciente:
      - Me responda logo. Que tipo de animal ou criatura é você?

LUCIANA:
   - Não sou animal, nem “criatura” alguma. Sou só uma menina.

CAÇADOR:
       - Menina, menina! Menina qual o quê! Não venha me enganar, por que comigo não vai ter vez. Conheço tudo na floresta e bem sei que meninas não ficam assim tão longe, dentro da mata...

LUCIANA: 
       - Pois sou uma menina sim e meu nome é Luciana...

CAÇADOR:     
      - Luciana, Luciana... Já sei. Com toda esta cabeleira verde... Você é o curupira... Agora sim Seu Curupira, nunca mais você vai me atrapalhar em minhas caçadas. 
   
    De “arma” (PODE-SE USAR UM MATERIAL SIMPLES COMO UM PEDAÇO DE MADEIRA, PARA NÃO SER ,UITO IMPACTANTE) em punho, o caçador, prestes a atacar a menina, ouve ruídos de animais ferozes. Muito medroso, ele sai correndo por uma trilha na mata.

   Luciana, assustada, fica paralisada e muda no meio da confusão.

    Pouco depois, Luciana está sozinha na mata outra vez e com seu cesto em mãos, caminha cabisbaixa.

     Célio, o cervo, volta correndo e todo animadinho:



CÉLIO O CERVO:
      - Que bom, que bom! O caçador se foi e agora eu posso brincar... Mas por que você ainda está triste?

LUCIANA:
        - Como posso ficar alegre? Estou perdida, sozinha e com muita fome...

CÉLIO O CERVO:
        - Perdida? Por que não me disse antes? Você tem que procurar o Sábio Cobra. Ele sabe tudo, sobre tudo.

     A menina se anima toda.

LUCIANA:
          - É mesmo? E você pode me levar até ele?

         Agora é o cervo quem se acovarda:

CÉLIO O CERVO:
          - Eu? Er... Bem... É que... Já vou mamãe. Olha, tenho que ir, mas se quiser encontrá-lo, é só seguir por esta trilha. Não tem como errar.

        A menina segue a trilha indicada pelo amigo, mas antes que o cervo medroso vá embora também, ouve um grito desesperado, pedindo socorro:

MÃE CORSA:        
       - Socorro, socorro, socorro...       

CÉLIO O CERVO
      - Parece a voz da minha mãe... Mamãe, mamãe...
                    
      Ele entra pela floresta, tentando encontrar a direção dos pedidos de socorro, enquanto, em um lugar bem perto, a Mamãe Corsa tenta fugir, pedindo ajuda, com o caçador atrás:

LUCIANA:
        - Agora sim. Finalmente consegui mais um troféu para minha sala. Haahahahahaaaaaa!!!

MÃE CORSA:
       - Oh, não! Não faça isso Sr. Caçador. Sou apenas uma velha corsa e meu couro já está tão feio, que não lhe servirá de nada.

CAÇADOR:
       - Engano seu Mamãe Corsa. Sua cabeça dará um troféu magnífico, pendurado em minha parede.

MÃE CORSA: 
     -  Ora seu... Vai ver quando meus amigos animais pegarem você.

CAÇADOR:  
       - Não se preocupe, desta vez estou precavido. A mata está cheia de armadilhas. Logo haverá muitos outros, lhe fazendo companhia.
  

MÃE CORSA:    
       - Oh não!    

         No momento, em que tudo parece perdido, Célio chega correndo e dá uma cabeçada no caçador, empurrando-o para longe:

CÉLIO CERVO:        
        - Pronto mamãe. Agora aquele caçador não vai mais se meter com a gente.
                                                                                                                                             
MÃE CORSA:
        - Oh meu filho, que bom que você está bem...

CÉLIO O CERVA:
        - Claro que estou bem, mamãe. Sou um cervo muito forte e valente.

MÃE CORSA:
        - Mas que bobagem o que fez. Poderia ter se ferido, sabia? Estes humanos estão sempre fazendo maldades com alguém e não suportaria que acontecesse algo com você...

CÉLIO O CERVO:
        - Mas mamãe! Tive tanto medo de que o caçador te ferisse...

       Mamãe Corsa abraça o filhote bem forte e enquanto deixam a cena...

MÃE CORSA: 
      - Estou muito orgulhosa por ter um filhote tão heroico?
       
       Luciana  caminha assustada pela floresta.
    
      A menina fica paralisada quando percebe que o Sábio Cobra se aproxima.

SÁBIO COBRA: 
      - O que faz aqui menina, está perdida? – diz ele, já demonstrando astúcia – Está precisando de ajuda?

LUCIANA:
     - Sim, preciso muito de ajuda. Estou perdida, com medo... E estou com muita fome. Você pode me ajudar?

SÁBIO COBRA:
      - É claro que posso, basta que eu lhe dê uma mordidela e...

     Luciana se lembra do “Pequeno Príncipe” e se afasta.

LUCIANA:
      - Ah, não, que essa história eu já conheço!Não quero saber de mordidelas.

 SÁBIO COBRA
      - Então, o que quer de mim?

LUCIANA:
       - Tudo o que preciso é que mostre o caminho para minha casa, afinal, eu moro nesse planeta mesmo, aqui pertinho da floresta... Então? Vai me ajudar?
 SÁBIO COBRA:
       - É claro que sim. – diz ele, já indo embora - O caminho para voltar, é o mesmo que usou para chegar.

LUCIANA:
      - Mas, mas, mas...

    Já é tarde para que a menina consiga outra resposta, pois o Sábio Cobra já havia desaparecido na mata:

LUCIANA:         
   - E agora? Estou mais sozinha e mais perdida que nunca.


  Alguém (com uma asa negra) passa por trás de Luciana e se esconde em um galho de uma árvore bem copada. Luciana, assustada, mas muito curiosa, vai até a árvore onde ele se escondeu:

LUCIANA:
       - Quem é você?

MORCEGO JULIÃO:
       - Eu sou o morcego Julião...

LUVIANA:
       - AAAHH, um morcego!!!– ela grita e se encolhe de novo, com o cesto sobre o rosto.

MORCEGO JULIÃO:      
      - Não tenha medo, não vou te picar. Na verdade eu só como insetos e frutas. Não como meninas. Qual o seu nome?

LUCIANA:
       - Me chamo Luciana... Eu... Eu não consigo encontrar o caminho para casa... E já é hora do almoço... E estou com muita fome... E dois bichos queriam me almoçar e...

MORCEGO JULIÃO:
     - Ora, ora, mas quanto “es”! Fique calma, vou tentar ajudar. Consegue se lembrar de alguma coisa que viu no caminho pra cá? Algo que te lembre a direção de sua casa?

LUCIANA:
     - Não. Estou com tanto medo que não me lembro de nada.

MORCEGO JULIÃO:          
    - Pense um pouco, deve haver alguma coisa?

LUCIANA:                     
    - Não, não me lembro de nadinha.

MORCEGO JULIÃO:        
    - Não sabe onde fica sua casa?

LUCIANA:
  - É claro que sei! Moro na cabana da beira da floresta e sempre caminho por algumas trilhas, procurando por belas flores. Mas hoje, uma raposa, e depois uma onça, apareceram e queriam me almoçar. Eu fiquei com tanto medo, tanto medo, que acabei indo floresta adentro e me perdi... Você pode me ajudar a encontrar o caminho para casa?

MORCEGO JULIÃO:   
     - Não sei, mas vou tentar. Vamos que já está na hora do almoço... 

   Os dois caminham pala mata, procurando a direção para a casa de Luciana.

    Leila e Jonas ainda discutem.

LEILA:
    - O que fazer? Não há mais nada que eu queira comer nesta floresta hoje e você ainda me faz o favor de espantar a menina, aquela rara iguaria.

    Diz Leila, e imediatamente Jonas discorda:

JONAS RAPOSA:
    - Eu, ora! Ela já estava no papo, quando você chegou e a deixou escapar...

LEILA:
    - Eu a deixei escapar, seu... Espere, olhe isto.

    Jonas também se anima com a descoberta de Leila.

JONAS RAPOSA:
    - São pegadas de humano!
 LEILA:
    - Não. São pegadas daquela humana. Vamos, ela deve estar por perto.

JONAS RAPOSA:
     - Que bom, quando a encontrarmos, teremos um banquete dos deuses...

LEILA:
     - O que quer dizer com teremos?

JONAS RAPOSA:
      - Ora, é claro que vamos dividir o almoço.

LEILA:  
      - Dividir? Pode esquecer. Ela será o meu banquete e pronto.

JONAS RAPOSA:
      - Não seja egoísta, afinal, estou lhe ajudando muito com meus dotes de
caçador.

LEILA
     - Ajudando, ajudando. Quem disse que preciso de sua ajuda? Só o que fez foi me atrapalhar... Agora chega de conversa. Vou atrás da menina, antes que ela consiga se afastar mais.
     
      Perto dali, Luciana e Julião continuam em busca do caminho para a casa da menina:

LUCIANA:     
    - Essa não!- diz Luciana, desanimando-se - Voltamos para o lugar onde começamos.

MORCEGO JULIÃO:
      - Tudo bem! Vamos tentar de novo. Só precisamos ficar calmos e vamos conseguir... Acho que tenho uma ideia! Pegue isto.

LUCIANA:
      - O que vamos fazer com este cipó? Nos balançar de galho em galho?

MORCEGO JULIÃO:
     - Não, não... Desta vez não. – ele enrola todo o “cipó” que encontra – Pronto, agora deixamos esta ponta aqui e assim, saberemos os lugares por onde já passamos.

LUCIANA:
    - Que ótima ideia! Vamos logo.

   Os amigos continuam a busca, certos de que desta vez conseguirão encontrar o caminho para a casa de Luciana, quando surge Célio, se enrolando todo no cipó.

 LUCIANA:
  - Oh não, Célio! O que fez?

CÉLIO O CERVO:
     - O que fiz?

LUCIANA:   
  - Estávamos usando o cipó para marcar o caminho por onde já havíamos passado e agora vamos ter de começar tudo de novo.

CÉLIO O CERVO:
     - Opa! É... eu... é... Já estou indo mamãe. – e o cervo sai de cena novamente.

     Voltam a vagar, tentando encontrar o caminho, sem dar muita importância ao cervo atrapalhado, quando de repente, Jonas e Leila saltam na frente deles, Luciana se assusta, mas ao invés de se encolher como antes, cruza os braços em sinal de desafio e fala em seguida:

LUCIANA:
     - Essa não! Não vou mais correr, nem me esconder. Estou cansada, com fome...Tanto, que nem tem mais espaço para o medo.

LEILA:
    - Então... – Leila dá a solução - Posso acabar com tudo isso agora.

MORCEGO JULIÃO:
    - Ora, mas porque querem comer a humana? 

JONAS RAPOSA:     
 -E por que os humanos querem comer os animais?? – diz Jonas, levantando uma       difícil questão - Queremos a humana por que estamos com vontade, ora!

     Leila fica cada vez mais irritada:
    
LEILA:
      - Chega! Estou com fome e estou cansada de tantas baboseiras... É hora do meu almoço.

     A onça salta sobre Luciana, e Julião puxa a menina para o outro lado, deixando Leila cair em um monte de folhas.

    Ela começa a gritar de dor e quando se levanta, está com uma armadilha de caça presa em uma das patas. Jonas se assusta com a armadilha dos homens:

JONAS RAPOSA:
    - Hei, este lugar está ficando perigoso! Melhor eu me mandar.

  Julião, comovido com o sofrimento do grande animal, tenta ajudar e puxa, que puxa, sem nenhum resultado.

MORCEGO JULIÃO:                                
      - Oh não! Minhas patas são pequenas demais para arrancar a armadilha. Você vai ter que ajudar.

LUCIANA:
      - Mas ela queria me almoçar...

MORCEGO JULIÃO:
     - Ela está precisando da sua ajuda agora.

    O Sábio Cobra se aproxima e todos, exclamam um: “Ooooohhh!”, com exceção de Luciana, é claro, pois ainda esta chateada com a resposta, ou melhor, com a falta de resposta anterior.
     E a onça, grita que grita.

SÁBIO COBRA:  
      - O que está acontecendo por aqui?

MORCEGO JULIÃO:
     - Acontece que a onça caiu em uma armadilha de caçador...  

SÁBIO COBRA:  
     - Caçador? Corram, corram. Corram por suas vidas.

MORCEGO JULIÃO:    
     - Não Sr. Sábio Cobra. O caçador não está por aqui.

SÁBIO COBRA:
     - Então, qual é o problema? Por que tanto berreiro?

     Julião continua a explicação.

 MORCEGO JULIÃO:
     - Aqui está apenas a armadilha, que prendeu o pé da onça. 

SÁBIO COBRA:
     - Então, só o que temos a fazer, é retirar a armadilha do pé da onça.
   
LUCIANA:  
   - Sabemos disso, mas acontece que minhas mãos são muito pequenas para arrancar uma armadilha tão grande e a menina não quer ajudar.

     Luciana tenta convencer.

LJCIANA:
     - Como vou ajudar, se ainda há pouco, ela queria me almoçar?

SÁBIO COBRA:
     - Ora, como vai ajudar? Com as mãos. Eu é que não posso, pois não tenho mãos! Todos deveríamos saber como é importante ajudar, pois a recompensa sempre virá.

     O Sábio Cobra se vai novamente, deixando Luciana ainda mais brava com ele.
  
LUCIANA:
   - Mas Julião, e se quando eu chegar perto dela para ajudar, ela me pegar e me almoçar? 

MORCEGO JULIÃO: 
  - Mas se você não ajudar rápido, o caçador pode ouvir os gritos, vir capturá-la e depois...

LUCIANA:
   - E o que é que tem? Ao menos ela não vai almoçar mais ninguém e depois que eu voltar para casa, será um bicho a menos para eu ter medo.

      Leila, que se contorce de dor.
 LEILA:
      - Chega!...Uuuuiii, aaaaiiiii... Não quero saber da ajuda de uma humana... uuuuiiiii, aaaaiiiii... Se ela chegar perto de miiiiiim, aaaaiiiiiii.... Vai querer me fazer de troféu... uuuuiiii!!!

MORCEGO JULIÃO:
     - Veja só! A pobre está com tanto medo quanto você. Estou certo de que não lhe fará nenhum mal.

LUCIANA:  
    - Mas...- Luciana ainda se recusa - Estou com tanto medo!

MORCEGO JULIÃO:
    - Todos temos medo, mas não podemos deixar de seguir em frente...

LUCIANA:  
    - Parece que já ouvi isso antes, mas não consigo me lembrar onde...  

    Ela dá voltas em torno da onça, enquanto o bicho “berra” de dor, depois, se aproxima timidamente e acaba por se decidir. Pega a armadilha e com toda sua força, a arranca da pata de Leila. Dessa vez é a onça que se encolhe, lambendo a pata ferida. A menina começa a se afastar, mas Leila a chama de volta.

LEILA:
    - Espere, não vá ainda. Conheço toda a floresta e posso te mostrar o caminho para a sua casa.

     Luciana abre o maior sorriso e corre para dar um abraço na nova amiga, quando ele, o caçador, aparece novamente:
 CAÇADOR:   
   - Ahá! Ora seu Curupira, não adianta mais se disfarçar. Sei que é você quem tem me causado tantos problemas, mas agora eu vou acabar com tudo isso.   

  Leila entra na conversa com ironia.

LEILA:
    - E como é que pretende fazer tal coisa, sr Caçador?

CAÇADOR:
    - Muito simples D. Onça, trouxe cá, comigo, uma peneira, com uma cruz marcada em cima e esta garrafa. Quando eu jogar a peneira em cima desse curupira, ele vai ficar fraquinho e pequenininho. Depois vou prendê-lo nesta garrafa e aí, todos os animais da floresta estarão em minhas mãos.
  
      Julião primeiro o olha com espanto, depois se põe a gargalhar .

MORCEGO JULIÃO:
      - Mas que coisa! Além de caçador, é tonto. Não sabe que peneira com cruz é armadilha para saci e não curupira? 

LUCIANA:  
      - Além do que, já estou cansada de dizer que não sou curupira, sou só uma menina e...  
     
    Sem ao menos deixar a menina completar sua frase, o caçador lança a peneira sobre ela, e a peneira bate em sua cabeça e cai no chão.


CAÇADOR:     
      -Não pode ser! Como não funcionou?  

LEILA:   
      - Não funcionou, não funcionando ora!... Agora você vai é se ver comigo, seu caçador de meia tigela.    
                 
      A onça caminha na direção do caçador, muito brava e ameaçadora. Ele, tentando se afastar da onça acaba tropeçando e fazendo cair uma rede em sua cabeça. Desesperado, acaba pisando em outra armadilha, também posta ali por ele mesmo. Com muita dor, se senta no chão.

     Luciana, Julião e Leila retiram a rede de cima dele. Assustado e ainda com a armadilha presa em seu pé, o caçador deixa a floresta aos gritos.

CAÇADOR:
     - Essa não, essa não! Fiquei preso em minhas próprias armadilhas. Desisto, desisto. Nunca mais, nunca mais mesmo eu volto à floresta para caçar, nunca mais.        

MORCEGO JULIÃO: 
    - Vejam só! Depois nós é que somos irracionais. Os humanos, com sua capacidade de mudar a natureza acabam criando “armas” para ferir os outros e nem se dão conta que, de uma forma ou de outra, são sempre eles, os maiores prejudicados.   

 LEILA:   
     - Ainda bem que nem todas as criaturas são assim!
      


LUCIANA:
     - Hei! Os humanos, também não são todos assim. – protesta Luciana - Também temos consciência de que devemos proteger os bichos e as outras pessoas... Quer dizer... Alguns dae nós temos es

LEILA:
      - Está bem, está bem! Ainda bem que alguns humanos também não são assim...

   A menina dá as mãos aos amigos, Julião e Leila e cantam.
   
         “Alecrim, do meu coração
            Que nasceu no campo
            Com essa canção
                   
             Foi meu amor
             Quem me disse assim
             Que a flor do campo é o alecrim”
                                
     Depois se apressa voltar para casa.

    Luciana encontra sua mãe , trazendo uma panela e uma colher na mão e cantarolando um LÁ, LÁ, LÁ.

LUCIANA:
    - Mamãe, trouxe as flores...

     Diz Luciana toda animada e esfomeada.
MÃE DE LUCIANA:
   - Filha, que bom que chegou e que lindas flores!

LUCIANA:
  - Mamãe, não sabe o que me aconteceu!...  

 MÃE DE LUCIANA:
  - Depois você me conta filha.Vá tomar um banho para depois almoçar.

LUCIANA:
  - Mas mamãe! Estou com tanta fome... Posso almoçar antes?

MÃE DE LUCIANA:
  - Desculpe filha, mas me aconteceram tantas coisas, que acabei atrasando com o almoço. Você vai ter que esperar...

Luciana olha para o céu e gesticula um
“fazer o quê”...



















DUDU O CAÇADOR DE DRAGÃO




PERSONAGENS:
DUDU;

(Menino muito entusiasmado, que ouviu falar de um dragão grande, feio muito, muito mal e se põe a caçá-lo.)

SIRENA;
(Parece uma menina, apesar de muito mal humorada e mandona, às vezes transparece uma fragilidade, capaz de comover o menino, mas ela guarda um grande segredo.)

CRIATURA, HOMEM DAS NEVES E DRAGÃO:
(Trata-se do mesmo personagem, o “Dragão”, tentando se esconder. É a principal peça do mistério e, para manter seu disfarce, é sempre inseguro e amedrontado.)

PRINCESA MARYNE;
(Este personagem, só aparece no final, pois é a chave do grande mistério. Uma menina meiga e doce, mas nem sempre ela foi boazinha, viu!)

VELHO ANCIÃO, ESQUIMÓ:
(Como o “Dragão”, estes também são disfarces de um mesmo personagem. Sempre velhos e com o mesmo jeito de falar, dão uma mostra de seu verdadeiro “eu”... Será que você é capaz de adivinhar qual é a verdadeira identidade deste personagem??)

CENÁRIOS:
(OS ELEMENTOS DOS QUADROS PODEM SER TROCADOS PELOS ATORES COM A LUZ APAGADA, SEM O FECHAMENTO DAS CORTINAS)
10 QUADRO: (Reino da Terra) Pode ser usado um painel de floresta no fundo, algumas “pedras”, uma caverna, que pode ser uma barraca estilizada ;

2oQUADRO: (Reino do gelo) Muito parecido com o reino da terra, porém seus componentes devem ser brancos. Pode ser usados painel de montanhas cobertas de neve, pedras brancas, tapetes brancos (incluindo o manto usado pelo “Homem das Neves”) e uma “caverna” também branca.

30QUADRO: (Reino das Águas) Um trono, sobre um pedestal no centro, algumas algas cenográficas, pedras e peixes, estilizando um fundo do mar.

Obs.:Os quadros podem ser dispostos em três diferentes espaços, no mesmo palco, evitando as trocas de cenários, sendo iluminado apenas o espaço usado na presente cena.

SUGESTÕES DE FIGURINO:

DUDU: Casaco e calças largas e camufladas, capacete (ambos no estilo militar), cinto e uma espada de madeira;
SIRENA: Vestido rodado e longo (tipo princesa), arranjo no cabelo e cetro (base de madeira ou metal, com uma “pedra” em cima. A pedra deve ser formada por peças que se encaixem e que desmonte, quando lançada ao chão);
VELHO ANCIÃO: Túnica branca envelhecida, amarrada por uma corda barba e cabeleira branca;
ESQUIMÓ: Casaco com capuz (o capuz deve ter imitação de pelo em suas bordas);
DRAGÕES: Roupa base de cor verde limo, máscara, luva, escamas dorsais e rabo podem ser feitos de material como EVA.
Obs.: Não se esquecer dos mantos de tecido cru e de pelo branco para a Criatura da floresta e o Homem das Neves, respectivamente;
PRINCESA MARYNE: Vestido (tipo princesa) e tiara;
BRUXA (SIRENA): Cabeleira branca, nariz grande e verruguento, roupas longas e pretas.
















- 1o Quadro -

Ouve-se o rufar dos tambores. Logo em seguida, surge um menino, vestindo roupas camufladas, bem largas e um capacete. Já, subindo ao palco, meio atrapalhado, o menino, todo atrapalhado, tropeça em uma pedra e quase bate com a cabeça nas rochas da caverna.

Levanta-se, sacode a poeira e, olhando para a plateia, faz um “sshhhh”, pedindo silêncio:

DUDU (falando mais baixo, querendo se manter segredo de sua localização, é claro)
– Sabem, estou procurando um Dragão. Vocês o viram por aí?

Depois de ouvir a resposta do público, ele olha para um lado, olha para o outro e continua:

DUDU
– Me disseram que, aqui por perto, se esconde o Dragão. Um grandão assim. É! Ele é grandão assim, mesmo! E sabem do que mais? Ele é feio, muito feio e também é mal, muito mal mesmo... Tem certeza que não viram nenhum Dragão por aqui?

RRRRRRUUUUUUUUFFFFFFF... RRRRRRUUUUUUUUFFFFFFF!!!

DUDU (se entusiasma)
– É ele, tenho certeza que é! Este ronco só pode ser ronco do Dragão.

O menino caminha sorrateiramente pelo palco...

RRRRRRUUUUUUUUFFFFFFF... RRRRRRUUUUUUUUFFFFFFF!!!

Ele chega à conclusão de que o ronco está vindo da caverna e então ele se aproxima, pegando uma espada de madeira, presa ao seu cinto e desafia:

DUDU (em tom desafiador)
Dragããão, Dragããão...

Ele espera por uma resposta, mas nem sinal do Dragão, e o menino insiste:

DUDU (quase invadindo a caverna)
– Dragão, saia e venha encontrar seu destino – Ele se vira para a plateia e murmura – Ele vai ver só. Vou derrotá-lo com um só golpe...

Alguém se mexe e, vendo que esse “alguém” está saindo da caverna, Dudu dá um salto para trás, quase deixando seu capacete voar.

Infelizmente (ou felizmente), o que saiu da caverna não foi um Dragão e sim um senhor, bem velhinho, vestindo uma túnica encardida, amarrada por uma corda:

VELHO ANCIÃO (com voz, que embora expressasse sua idade, mostrava segurança e força ao falar)
– Ora, ora, ora, mas por que tanto berreiro, tanta gritaria. Não se pode mais ter sossego nem dentro de uma caverna?

O menino, todo sem graça e desajeitado, tropeçando nos próprios pés, tenta se explicar:

DUDU (envergonhado)
– Perdão, perdão, mil perdões senhor! Acontece que sou um caçador.

VELHO ANCIÃO
– Mas era só o que me faltava... Nesse caso a situação é ainda pior. Imagine um caçador na minha floresta. Pobres dos animais!

DUDU (tentando se explicar)
– Não, o senhor não entendeu. Não estou caçando animais, estou caçando um Dragão.

VELHO ANCIÃO
– Ora essa! Menino tonto! Não sabe que dragões não existem?

DUDU (com muita convicção)
– Mas é claro que existem, existem sim. Sei que tem um Dragão por aqui e é melhor o senhor se esconder, pois, malvados como os dragões são, esse, engoliria o senhor em um só segundo e com uma só abocanhada e...

RRRRRRUUUUUUUUFFFFFFF... RRRRRRUUUUUUUUFFFFFFF!!!

DUDU
– Mas e agora, de onde veio este ronco?

VELHO ANCIÃO
– Ora essa... Rrrrruuufff... Essa conversa está tão cansativa que estou dormindo em pé... Rrrrruuufff... Você não tinha percebido?

DUDU
– De jeito nenhum, este ronco não veio do senhor não, tenho certeza que veio da caverna...

O menino percebe que mais alguém está saindo e logo aparece uma criatura usando um manto velho, que lhe cobre quase todo o corpo, deixando de fora uma grande cauda e um nariz verde e comprido.
Dudu fica paralisado por alguns instantes, enquanto a criatura boceja e esfrega os olhos, esfrega os olhos e boceja:

CRIATURA (sonolenta, sonolenta, que nem percebe a presença do menino)
– Mas, já é hora de acordar???

O menino, sempre desafiador, salta na frente da criatura, de espada em punho:

DUDU
– Agora sim, seu grande Dragão. Você nunca mais vai fazer maldade nenhuma, contra ninguém...

E o Velho Ancião pula na frente do menino:

VELHO ANCIÃO
– Não, não. Você está enganado. Isto não é um Dragão, não.

DUDU
– O que é então?

O Velho Ancião tenta pensar rápido:

VELHO ANCIÃO
– Ora essa, não está vendo? Ele é... É... Ele é um Ogro da floresta.

CRIATURA (ainda, meio... Aliás, meio é pouco, totalmente confusa)
Ogro da floresta! Onde, onde? Ah é! Sou eu. Sou o Ogro da floresta.

DUDU (pensativo)
- Mas Ogro também come gente, não é?

CRIATURA (se “sintonizando” com a situação)
- Pois eu não. Sou um Ogro muito do bonzinho.

DUDU (quase convencido)
- Não sei não, mas tudo bem, afinal, o que quero é combater um Dragão. Um Dragão grande, feio e muito, muito malvado.

VELHO ANCIÃO (tenta usar de sua sapiência)
– Ora essa! Pense um pouco. Por que você quer tanto capturar um Dragão? O que ele fez, para ser tão malvado?

DUDU
– Porque me disseram que o Dragão, fugiu para esta floresta, depois de destruir um reino inteiro, depois de comer um montão assim de criancinhas, ó...

VELHO ANCIÃO
- Ora, ora! E você acredita em tudo o que dizem?!... Acha mesmo que uma criatura tão má poderia estar em uma caverna, cuidando de um velho como eu?

DUDU (agora, convencido)
- Bom... Acho que o senhor tem razão. Então, é melhor que eu parta. Preciso encontrar logo esse Dragão.

O menino se despede e vai, deixando o Velho Ancião e a Criatura se entreolhando, com caras de quem guarda algum segredo.
Ouve-se uma “flauta” bem triste, em tom de despedida e depois predomina o silêncio entre os dois, até que a Criatura exclame desanimada:

CRIATURA
- É, acho que vamos ter de ir embora outra vez!

VELHO ANCIÃO (concordando)
- Ora, ora! Acho que fomos descobertos. Se ficarmos, correremos um grande risco...

CRIATURA (espantada)
- Mas para onde vamos?

VELHO ANCIÃO (se reanimando)
- Ora, sabe que eu não tenho ideia... Espere... Tenho sim! Eu tenho uma ideia!

CRIATURA
- Então diga logo, que ideia é essa?

VELHO ANCIÃO
- Já que nos encontraram no Reino da Terra, então agora iremos para o Reino do Gelo. Lá, as criaturas do Reino do Mar e do Reino da Terra, certamente não nos seguiram.

CRIATURA (contagiada pelos ânimos do velho amigo)
- Então vamos logo... Antes que nos descubram de vez!

O Velho Ancião olha na direção para onde foi o menino, demonstrando grande tristeza e a criatura deixa o manto cair, mostrando que é mesmo um Dragão. Os dois deixam o palco.
Em seguida, uma menina muito bonita chega, com um vestido comprido e tendo na mão, um cetro com uma pedra na ponta:



SIRENA (muito irritada)
- Ah, mas como é tonto esse menino! Tenho certeza que o Dragão está nesta floresta, no Reino da Terra, mas ele consegue encontrá-lo? Não, não consegue agora eu tenho de sair lá do Reino das Águas, para tentar consertar suas trapalhadas...

Dudu chega todo atrapalhado, tropeça e quase derruba a menina:

DUDU
- Sirena, Sirena... Oop’s... Desculpe!

SIRENA
- Seu tonto, preste mais atenção por onde anda.

DUDU (se recupera do susta e fala todo entusiasmado)
- Desculpe Sirena, mas eu não disse, não disse?

SIRENA
- Não disse o que?

DUDU
- Não disse que não havia Dragão nenhum nesta floresta, não disse?!

Sirena pega o manto, que está caído no chão:

SIRENA
- Tonto, tonto, tonto! Olhe para isto.

DUDU
- Mas eu já vi, é o manto da criatura!

SIRENA
- Ai, mas nunca vi mais tonto! Olha, tem uma escama presa no manto.

DUDU (olhando atenciosamente e perdendo o entusiasmo)
- Isto é uma... Uma escama de Dragão?

SIRENA
- Mas é claro que é uma escama de Dragão! Eles enganaram você.

Dudu fica muito decepcionado e o fundo musical, bem melancólico, piora o clima:

DUDU
- Me desculpe! Puxa vida, sou mesmo um tonto!

Ela perde a aparência forte e mal humorada de antes e agora se torna uma menininha tão desconsolada, tão “coitadinha”:

SIRENA
- É não tem problema! Certamente você agora voltará para sua casa quentinha, enquanto um Dragão grande, feio e muito, muito malvado, destrói meu reino...



DUDU (em tom heroico e decidido)
- Não Sirena, não. Eu não vou deixar que isso aconteça. Vou encontrar o Dragão novamente e dessa vez, ele não me escapa!

SIRENA (fingindo alegria com a decisão do menino)
- Promete, promete?

DUDU
- Mas claro que prometo! Afinal, eu sou ou não sou um herói?

SIRENA (retomando sua personalidade mandona e arrogante)
- Sei, sei, sei. Agora vamos logo! Comece a pensar. Para onde o Dragão pode ter ido, hein?

DUDU
- Mas é muito fácil responder a essa pergunta...

SIRENA (muito interessada)
- Verdade? Então responda logo.

DUDU
- Ele deve ter ido fazer, o que ele quer tanto fazer...

SIRENA
- E o que é? Fala, fala logo.

DUDU (se achando muito esperto)
- Ele deve ter ido para o Reino das Águas destruir tudo, é claro!

SIRENA (decepcionada)
- Não, não, não, seu tonto! Deixe-me pensar, deixe-me pensar... Já sei! Ele deve ter se escondido no Reino do Gelo, é claro! É o melhor lugar para se esconder dos povos da terra e da água.

DUDU (desconfiado)
- Mas Sirena, por que um Dragão grande, feio e muito, muito mal ia querer se esconder…

SIRENA (se esforçando para convencer o menino)
- Para preparar melhor o plano de ataque, é claro!

DUDU (não muito esperto, se convence fácil)
- Ah, claro! Então não se preocupe. Vou encontrar e derrotar esse Dragão.

Os dois deixam o palco, confiantes da vitória.

- 2o Quadro -


Tudo parece muito frio, em um cenário completamente branco.
Com uma “introdução musical oriental”, Dudu volta a aparecer, “tropeçante” como sempre e quase bate com a cabeça na caverna, branca de tanta “neve”, que está do lado de um monte de “pelos” brancos:

DUDU
- Encontrei, encontrei! Finalmente encontrei o Dragão e vou impedi-lo de destruir o Reino das Águas. Ele vai se ver comigo, vai sim!


Ouvindo apenas o “barulho do vento”, ele começa a procurar vasculhar, investigar tudo. Cada cantinho do lugar e até dentro da caverna, mas não encontra nada, nem ninguém:

DUDU (decepcionado)
- Mas o que é isso? Não tem ninguém aqui. Será que peguei o caminho errado?


Ele pega um mapa, amarrado junto com a espada. Vira de um lado vira do outro. Olha em baixo, olha em cima, olha para o céu, torna a olhar para o mapa e balança a cabeça em um sinal negativo:


DUDU
- Não, não, não. O caminho está certo. Estou mesmo no Reino do Gelo... Bem, talvez quem tenha se enganado, seja a Sirena. É isso! Enquanto estou aqui, o Dragão grande, feio e muito, muito mal está atacando o Reino das Águas... Essa não! Tenho que voltar para lá e rápido!...


Bem que o menino tentou sair bem rápido daquele lugar, mas acabou trombando em alguém:


DUDU
- Me desculpe... Me desculpe, mesmo...


ESQUIMÓ (que na verdade é o Velho Ancião disfarçado)
- Tudo bem, tudo bem. Estou bem, não se preocupe.

DUDU (desconfiado)
- Espere um pouco, eu não te conheço de algum lugar.


ESQUIMÓ (que nem disfarça a voz, a mesma do Velho Ancião)
- Hummm! Pode ser. O senhor mora aqui por perto?

DUDU
- Não senhor. Não moro não. Na verdade, é a primeira vez que venho por estes lados, sabe? Eu sou é do Reino da Terra, lá perto de uma floresta muito linda...

ESQUIMÓ
- Ora, ora, é mesmo! Então não. É impossível que o senhor me conheça. Na verdade, desde que nasci me mudei para cá e nunca mais saí.

O menino dá a mão em cumprimento, se despedindo:

DUDU
- Bem, sendo assim, realmente é impossível que nos conheçamos. Bom, então adeus. Tenho que ir, pois preciso derrotar um Dragão grande, feio e muito, muito mal que quer destruir certo reino... - tentando sair, ele acaba tropeçando no tal monte de pelos brancos, perto da caverna branca -... Ooop’s...

Ele cai, lançando a espada para fora do palco e fica gemendo de dor.
O Esquimó se aproxima, olha a perna dele e dá o diagnóstico:


ESQUIMÓ (com cara de quem sabe o que diz)
- É você torceu o tornozelo, pelo jeito, não vai poder ir fazer, o que queria fazer...

VOZ DEBAIXO DO MONTE DE Pelos BRANCOS - A CRIATURA, DISFARÇADA DE HOMEM DAS NEVES -
- Oh, não! Essa não! Quer dizer que vamos ter um hóspede?

Um bicho grande se levanta, sob o manto de pelos brancos:

DUDU (se assusta)
- Mas o que é isso? Um Dragão branco?

ESQUIMÓ (meio sem jeito, tenta convencer)
- Dragão, Dragão? É claro que não é um Dragão!

HOMEM DAS NEVES (tão sem jeito, como a criatura)
- É! É claro que eu não sou um Dragão... Não é?

ESQUIMÓ (bem certo de si)
- Mas é claro que não! O meu amigo é o Homem das Neves.

DUDU (se assusta mais uma vez)
- Mas é o Abominável Homem das Neves?

HOMEM DAS NEVES
- Isso mesmo! Eu sou o abominável... Abominável???

ESQUIMÓ
- Isso mesmo! O abominável Homem da Neves.

DUDU
- Mas o abominável Homem das Neves não é um devorador de esquimós?

HOMEM DAS NEVES
- Se é ou não é, eu não sei. O que sei, é que eu sou vegetariano, viu?

DUDU (estranhando)
. – Mas vegetariano em um lugar gelado como este?

HOMEM DAS NEVES (tenta se explicar, timidamente)
- É que só como algas marinhas, é claro!

DUDU (confuso)
- Mas algas de onde?

ESQUIMÓ (se irritando)
- Ora, ora, mas querem parar de baboseiras! Você não estava ferido?

DUDU (se lembrando da dor que sente)
- Ih, é mesmo! Aaaaiiii, uuuuiiii, como isso dói!

HOMEM DAS NEVES (se aproxima ainda tímida)
- Eh, sabe... Acho que posso te ajudar... Acho que posso resolver este probleminha.

DUDU (indignado, com a falta de importância atribuída a tão grave ferimento de batalha)
- Probleminha, chama isso de probleminha? Além do que, era só o que me faltava, ser ajudado por um monstro comedor de gente!

O Homem das Neves balança a cabeça e depois chega bem perto do menino, pega seu pé, aperta um pouquinho o tornozelo, e o menino faz careta de dor, depois dá um assopro, fazendo voar um brilho “purpurinado” de sua mão e pronto. O pé do menino já estava curado, sem nenhum sinal de dor.


O menino para de gemer, olha seu pé, olha para o Esquimó, como se perguntasse “como ele fez isso” e depois olha para o Homem das neves, com um belo sorriso:

DUDU
- Uau! Tem razão. Você não pode mesmo ser um Dragão e nem um abominável devorador de esquimós!

HOMEM DAS NEVES
- É mesmo? – pergunta ele com um sorriso no rosto e depois, com uma expressão interrogativa – Mas porque você acha que não?

DUDU
- Mas é claro que não! Onde já se viu criaturas tão feias e malvadas, poder fazer uma coisa boa como essa?

Percebendo a decepção do amigo, o Esquimó toma a palavra:

ESQUIMÓ
- Ora, ora! Agora me diz, por que é mesmo que você quer tanto encontrar o Dragão?

O menino procura um lugarzinho para se sentar, olha para os seus novos amigos e começa:

DUDU
- Está bem. Vou contar tudo o que aconteceu...

HOMEM DAS NEVES (batendo palmas e saltitando feliz)
- Que bom, que bom, história! Eu adoro história.

ESQUIMÓ
- Ora, ora! Então fique quieto para podermos ouvir.

O menino olha tudo a sua volta novamente, bem pensativo, como se quisesse lembrar-se de tudo, não se esquecendo de nenhum detalhe, enquanto os outros dois se sentam no chão:

DUDU
- Bom, acontece que eu nasci em uma vila muito bonita, lá no reino da terra e aí...

HOMEM DAS NEVES (sem paciência para esses “pequenos detalhes”)
- Ai, certo, certo! A história não precisa ter tantos detalhes assim, não é mesmo?

ESQUIMÓ
- Ele tem razão, só queremos saber o porquê de tanta raiva de Dragão, ora essa!



DUDU (não muito contente)
- Está bem, está bem. Acontece que, certo dia, lá na minha linda vila, quando estávamos todos cuidando de nossas vidinhas...

HOMEM DAS NEVES
- Por favor, quer se “manter” aos fatos?

ESQUIMÓ
- Ora, ora, Homem das neves! Não é se “manter” aos fatos, queremos é que ele se atenha aos fatos.

O menino se levanta e, tentando andar pelo palco, tropeça e cai de cara no chão. Levanta-se, “sacode a poeira” e continua:

DUDU
- Está bem, está bem! Tudo começou de verdade, quando uma onda gigante, enorme mesmo, veio e destruiu toda a minha vila...

EQUIMÓ E HOMEM DAS NEVES
- Ooohhhhh!!!

DUDU (confirmando)
- É verdade sim!

HOMEM DAS NEVES
- Mas ainda não sei o que eu... Quer dizer... O que o Dragão tem a ver com isso!

Ele chega perto do Homem das neves e tom de suspense:

DUDU
- Acontece que logo depois da grande onda, encontramos uma menina na praia. Estava toda suja e com as roupas rasgadas, mas era muito, muito bonita!

HOMEM DAS NEVES (“torcendo o nariz” para a história)
- Ta, ta, ta, ta! Continuo não vendo Dragão nenhum na história...

ESQUIMÓ (muito interessado)
- Fique quieto, Homem das neves, que estou começando a entender. Então, quem era mesmo essa menina?

DUDU
- Você não deve conhecê-la. Acontece que ela veio do Reino das Águas, lá do fundo do mar. Ela era a princesa de lá...

HOMEM DAS NEVES (indignado)
- Princesa do Reino da Águas?! Mas eu é que...


ESQUIMÓ (impaciente)
- Fique quieto Homem das Neves, que já vamos entender a história...

HOMEM DAS NEVES
- Aaaahhh! Está bem. Pode continuar menino.

DUDU
- Espero não ser mais interrompido, viu! Bem, continuando, a princesa se chamava Sirena... - o Homem das Neves quase falou alguma outra coisa, mas o Esquimó tapou-lhe a boca -... Ela estava muito triste, pois seu reino havia sido destruído por um Dragão grande, feio e muito, muito mal. Ela ficou mais triste ainda, quando viu que a minha vila também havia sido devastada pela onda. Então ela disse que tudo era culpa do Dragão e que só um soldado forte como eu, poderia derrotar o Dragão e salvar o Reino das Águas e a minha vila. Ela disse também, que se eu falhasse, o Dragão iria fazer uma onda maior ainda e aí sim, não sobraria nada da minha vila...

O menino fica muito triste depois de contar a história, então, o Homem das Neves se aproxima e aconchega a cabeça de Dudu em seu ombro:

HOMEM DAS NEVES (compadecido)
- Pobrezinho! Nós temos que ajudá-lo.

ESQUIMÓ (ignorando a piedade do amigo)
- Temos nada! Quem manda ser bobo? Ninguém nunca disse a ele, que não se deve acreditar em tudo o que dizem? Ora, ora! Não podemos nos sacrificar por burrice alheia...

DUDU (não entendendo nada)
- Hei! Posso saber do que é que estão falando.

Ignorando o menino, eles continuam a discussão:

HOMEM DAS NEVES
- O que está acontecendo a ele, também é nossa culpa. Precisamos ajudá-lo!

O menino ouve tudo, muito impaciente. Emburrado, de braços cruzados e batendo a ponta do pé no chão, sem parar:

ESQUIMÓ
- Não sei, não sei...

HOMEM DAS NEVES
- Por favor, eu preciso fazer isso. Não posso fugir pelo resto da minha vida.




ESQUIMÓ
- Está bem, se te fará sentir-se melhor...

DUDU
- O que está acontecendo? Do que estão falando?... Por favor, alguém fala comigo.

HOMEM DAS NEVES
- Está bem, está bem, mas pare de choramingar.

O Homem das Neves deixa o manto de pelos brancos cair:

HOMEM DAS NEVES (cabisbaixo)
- Não precisa mais procurar... Eu sou o Dragão do Reino das Águas.

DUDU (espantado e sem saber o que fazer)
- Não, não pode ser! Você foi tão bom comigo... Como vou poder ferir você?

ESQUIMÓ
- Uma coisa está certa na sua história, se você não capturar o Dragão, sua aldeia será destruída pela bruxa...

DUDU (confuso como nunca)
- Bruxa, que bruxa? Não conheço bruxa nenhuma!

ESQUIMÓ
- Mas você não entendeu nada mesmo, não é? Sirena é uma bruxa.

DUDU (não admitindo falar mal de Sirena)
- Mas é só o que me faltava! Agora, vão querer pôr a culpa na coitada da princesa Sirena...

HOMEM DAS NEVES (desistindo de tentar se explicar)
- Não tem jeito mesmo, você é um “cabeça dura”!

DUDU
- Tudo bem, tudo bem! Está certo que vocês foram até legais comigo, mas agora eu vou levar os dois como prisioneiros e é melhor não resistirem, se não...

HOMEM DAS NEVES (novamente cabisbaixo)
- Não se preocupe! Vamos com você.

Os três deixam o palco. O Esquimó e o Dragão vão na frente e Dudu os segue, feito um soldado e seus prisioneiros.



- 3o Quadro -


O cenário agora é o Reino das águas. Com um trono, sob um pedestal, no centro.
Algumas algas ( feitas de espuma), pedras e peixes, dão a sensação de fundo do mar.
Sirena está sentada no trono, com seu cetro na mão direita. Ela olha para um lado, olha para o outro e depois, com uma extrema altivez, se levanta e caminha lentamente à frente do palco:

SIRENA (irritada, como sempre)
- Tolo, tolo, tolo! Mas como aquele menino é tolo! Nem lhe passa pela cabeça que só estou me aproveitando da inocência dele. É isso mesmo. E sabem por quê? Por que a “Princesa Dragão” não pode ser ferida por mim... Somente um ser inocente do Reino da Terra poderá lhe fazer mal e no momento em que isso acontecer, o encanto será permanente e ela será um Dragão para sempre. Hahahahahahahaaaa!

Ela mal termina de falar e Dudu entra agitando sua espada, todo esbaforido e tropeçando nos próprios pés:

DUDU
- Princesa, princesa... Eu consegui, eu consegui...

SERENA (toda animada)
- Conseguiu? Conseguiu matar o Dragão?

DUDU (mais contido)
- Matar, matar não, mas consegui algo muito melhor.

SIRENA (franzindo a testa)
- Melhor, melhor, como assim melhor?

DUDU
- Muito, muito melhor. Acontece que eu o capturei vivo!

Ela faz uma feição, de decepção sem tamanho:

SIRENA
- Quer dizer que você “a” trouxe... Digo você “o” trouxe para o Reino das Águas?

DUDU
- Isso mesmo! Eu, sozinho, capturei o Dragão... Ah! E capturei o amigo dele também...

SIRENA (se desesperando)
- O amigo também? E onde eles estão?

Agora a expressão de Sirena é de um enorme e indisfarçável medo:

DUDU
- Estão no calabouço, é claro. Quer que eu os traga aqui?

SIRENA (se precipita, mas tenta disfarçar)
- Não, não quero... Digo, é melhor não trazê-los aqui. Na verdade, eu quero que você vá lá agora e mate o Dragão.

DUDU (cessa a animação e ele recua e olha para a plateia)
- Matar o Dragão? Eu... Agora?

SIRENA (decidida)
- Isso mesmo. Quero que vá e mate o Dragão agora.

DUDU (baixando a cabeça, segurando as mãos nas costas e se balançando de um lado para o outro, muito desconfortável)
- É que... Bem... Sinto muito, mas não posso.

SIRENA (ficando indignada)
- Como não pode? Quer que ele destrua sua aldeia?

DUDU
- Não, não quero... Mas também não posso matar o Dragão.

SIRENA
- Como não pode matar o Dragão, você precisa matá-lo para nos salvar... Para salvar todos nós.

DUDU (chega perto dela, com uma mão próxima a boca, e fala em tom de fofoca)
- Olha, não sei não, mas acho que ele não é tão mal assim!

SIRENA (sarcástica)
- Você acha que ele não é tão mal? Ficou louco, é?

Depois, ela se mostra espantada e muito, muito amedrontada, enquanto Dudu continua:

DUDU
- Ele não é tão mal, sabe? Até me ajudou quando torci meu pé... Puxa! Ele tem um toque mágico sabia? Já sei! Vou trazê-los aqui e você vai ver como eles são legais...

O menino sai tão esbaforido quanto chegou e Sirena ainda tenta suplicar:

SIRENA
- Não, não os traga... Aqui!

Já é tarde, o menino foi buscar o Dragão e o amigo dele, deixando Sirena desconsolada:

SIRENA
- E agora? Como é que eu saio dessa?

Ela se senta no chão e se lamenta, quase chorando:

SIRENA
- E agora, e agora? O Dragão não podia voltar ao Reino das águas, sem ser ferido pelo habitante da terra... Será que descobriram como quebrar o feitiço?

Ela abaixa a cabeça, já se sentindo derrotada, mas depois se levanta, ajeita a roupa e se anima:

SIRENA
- Imagina! É claro que não descobriram nada, claro que não! O que tenho a fazer é convencer aquele tonto de que ele tem que ferir o Dragão. É! É só isso o que tenho que fazer.

O menino volta, acompanhado pelo Dragão e o Esquimó:

DUDU
- Está vendo... Olhe só... Não disse que não eram tão maus. Com certeza foi outra criatura que atacou seu reino e minha aldeia, com certeza foi...

SIRENA (sem nenhuma paciência)
- Pare, pare de tagarelar, seu tonto. Não vê que estão tentando te enganar... Não se lembra de tudo o que eu disse a você?

ESQUIMÓ (alfinetando)
- Ora, ora! Talvez o menino esteja aprendendo que não se deve acreditar em tudo o que dizem, não é?

SIRENA
- Cale-se, cale-se. Não escute o que ele diz... Precisa nos salvar, vamos!...

O menino não se move o Dragão cabisbaixo, também não diz uma palavra e o Esquimó, mantém uma postura de provocação contra Sirena.
Vendo que Dudu não se levantaria contra o monstro, ela resolve tomar uma atitude drástica. Aos berros, segura o braço de Dudu onde está à espada e o puxa contra o Dragão:

SIRENA
- Querendo ou não, serão suas mãos que vão ferir o Dragão, para não deixar que o encanto se quebre...

Percebendo as intenções de Sirena, o Dragão levanta a cabeça e resolve agir. Dá uma “rabada” na bruxa, e no menino, por tabela, fazendo o cetro cair no chão e a pedra que está presa em cima dele se partir:

SIRENA
- A pedra se partiu, o encanto se quebrou!!!

Sirena, desesperada, foge para fora do palco. O Dragão e o Esquimó vão atrás.

O menino, que havia sido derrubado pela rabada do Dragão, se levanta, ajeita as roupas. Olha para um lado, olha para o outro, não vê ninguém e pergunta para a plateia:

DUDU
- Alguém pode me explicar o que aconteceu aqui? Afinal, quem foi que eu salvei? a princesa ou o Dragão?

Uma voz, parecida com a voz do Dragão, mas muito mais suave e delicada, responde a pergunta do menino:

PRINCESA MARYNE
- Na verdade você salvou o Dragão e a princesa, pois o Dragão é a princesa e a princesa é o Dragão...

DUDU (sem entender nada)
- O quê?? Como assim?

Entra no palco uma linda menina, vestida como princesa. Aproxima-se de Dudu, segura suas mãos e se apresenta:

PRINCESA MARYNE
- Olá! Eu sou Maryne, a verdadeira princesa do Reino das Águas.

O menino, boquiaberto, nem consegue falar “oi” e só fica olhando, com cara de bobo.
Dois “novos” personagens sobem ao palco e Dudu, assustado com as figuras, pega sua espada no chão e se põe pronto a defender a princesa, que segura novamente as mãos do menino.
Um Dragão e uma mulher, que mais se parecia com uma bruxa, se aproximam dos dois:

PRINCESA MARYNE (muito delicadamente)
- Olá Sirena...

DUDU (mais espantado ainda)
- Ela é a Sirena?!

PRINCESA MARYNE
-... Eu preciso tanto te pedir perdão.

DUDU (se deixando levar pelas aparências)
- Pedir perdão para uma bruxa?

PRINCESA MARYNE (demonstrando grande compreensão e compaixão)
- Mas ela não é uma bruxa, na verdade, ela cuidava de mim, pois meus pais estão sempre viajando, mas eu sempre ria de sua aparência, só por ela ser velha. Eu dizia que, feia como ela era, só poderia se tornar uma bruxa. Tanto falei, tanto provoquei que ela não agüentou...

SIRENA (cabisbaixa e muito, muito triste)
- Você é quem tem de me perdoar. Eu fui tão boba, tão má... Nunca quis ser assim... Eu só queria te fazer sentir que não importa a aparência, mas... Quando me transformei... Acho que fiquei louca...

PRINCESA MARYNE
-... Não importa mais. Agora, tudo está em seu devido lugar. – ela olha para o Dragão, que só observa - E você Velho Ancião, Esquimó, ou apenas meu grande amigo Dragão! –ela o abraça - Mesmo tendo sido preso por meus caçadores, por causa de um medo bobo do que eu não conhecia, você não guardou mágoas de mim e depois que Sirena trocou nossas aparências, você sempre me protegeu. Mesmo como um ser frágil e velho, mostrou ser muito mais forte que eu... Muito, muito obrigada!

Finalmente, olha para o menino:

PRINCESA MARYNE (diz sorrindo)
- Quanto a você, soube que se tornou um grande herói!

O menino responde com ironia:

DUDU
- Não sei não, viu! Acho melhor você não acreditar em tudo o que dizem...

Aos risos, eles se abraçam em fila, saudando a plateia e as cortinas se fecham.




FIM

MARIA HELENA CRUZ