A QUASE FADA CONTA E ENCANTA

 A QUASE FADA
CONTA E ENCANTA



Maria Helena Cruz









- cap.I-

A Quase Fada
Conta e Encanta

Lá no reino encantado das fadas, há algum tempo atrás, nasceu um bebê fada muito lindo, com seus 
cachinhos cor-de-rosa e seus olhos verdes como a mata.

Todas as fadas estavam aguardando o nascimento desse bebê com muita ansiedade, pois durante décadas, não nascia, se quer, uma mini fadinha no reino. Tudo porque os humanos não acreditavam mais nas fadas e faziam questão de dizer isso em alta voz. O reino encantado das fadas estava perdendo seu brilho e encanto.

Mas quando tudo parecia perdido, brotou um botão de fada que renovou a esperança do povo mágico e, finalmente, um bebê fada havia nascido... Mas, mas, mas...

Que estranho!

A rainha das fadas examinou o bebê e... Nada..:

- Este bebê não é uma fada. - Bradou a rainha - Não encontro nele, magia alguma.

-Ooooooooh!!!!

- Mas não pode ser!

- Como é isso, se ela nasceu de um botão de fada?


Ignorando o espanto dos outros, ela continuou:

- Muito bem! Esperaremos algum tempo para que lhe apareçam seus talentos, mas se não acontecer, terá de deixar o reino encantado das fadas.

E assim o fizeram.

Depois de alguns dias o bebê fada já era uma fada jovem e continuava sem magia nenhuma, por isso foi chamada de “Quase Fada”.

Como havia sido decidido no dia de seu nascimento, chegou a hora de Quase Fada deixar o reino encantado:

-... Você deverá ir para o mundo dos humanos e só voltará para casa, quando encontrar sua magia de fada.

A Quase Fada entrou pelo oco de uma árvore e foi parar em um jardim do mundo humano.

Era o jardim de um museu e todos os dias um montão de crianças visitava esse jardim. Não foi difícil para elas ficarem, imediatamente, amigos da Quase Fada.

E brincavam e corriam e faziam a Quase Fada rir a valer.

As crianças amaram o sorriso daquela moça e as meninas se encantaram com seus cabelos cor-de-rosa.

Quando todos se cansaram, sentaram-se embaixo de uma sombra gostosa e a Quase Fada contou toda a sua história. Depois disse ainda que tinha muitas outras histórias para contar. Algumas ouvidas do vento, da chuva e dos bichinhos seus amigos.

As crianças gostaram muito de tudo o que aconteceu aquela tarde e na hora de ir embora, disseram que todos os dias, voltariam para ouvir as outras histórias e juntos, tentariam descobrir a magia de fada da Quase Fada.

Assim, todos os dias depois da escola, muitas crianças se juntavam para brincar e ouvir a amiga contar suas histórias, embaixo da árvore onde estava vivendo ela, que todos os dias tinha um algo diferente para apresentar aos amiguinhos.



-cap. II-
A Quase Fada conta
Um conto da poeirinha teimosa


Em uma tarde de sol e muito calor, todos estavam brincando embaixo da sombra da árvore, quando uma mãe chegou para uma menina e disse que ela tinha que ir embora.

A menina se pôs a espernear, a gritar e chorar. Não queria ir de jeito nenhum, mas a mãe insistiu, pois precisavam esperar o primo que ia passar o fim de semana com elas.

E a menina esperneava, gritava e chorava mais uma vez.

A Quase Fada pediu à mãe que esperasse um pouco mais, para que pudessem ouvir  uma história e ela aceitou, então todos se prepararam para ouvir...:

“Houve certa vez, um grão de poeira aventureiro que vivia a vagar por todo o mundo, na companhia de sua amiga ventania.

Um dia poeirinha, o grão de poeira, passou por uma casa grande e bonita, cheia de quadros, esculturas e brinquedos. Muitos brinquedos.

Poeirinha ficou encantado. Tinha que entrar para ver melhor.

Ele entrou, viu, gostou e não queria sair mais. Visitou todos aqueles lindos quadros. Conheceu cada curva das esculturas e brincou, brincou muito.

O que mais encantou poeirinha, foram os tapetes com seus pelos altos e macios, onde ele se escondia e até se perdia.

Toda hora, Ventania chegava nas janelas para dizer:

- Vamos Poeirinha, vamos... Logo, logo chega gente, e gente não gosta de grão de poeira não. Vai ser varrido, lavado... Vamos, vamos que tenho um monte de lugares novos para te mostrar...

Que vamos que nada! Poeirinha não dava ouvidos. Não escutava uma palavra do que sua amiga dizia, só queria brincar por aquela casa maravilhosa...

Mas logo chegou gente:

- Não se esqueça, hein! Aspire todos os tapetes com muita atenção.

- Sim senhora.

Poeirinha estava tão distraído que não ouviu. Continuava se divertindo entre os pelos do tapete.

Também não ouviu os apelos da amiga Ventania, que batia as cortinas tentando chamar a atenção do amigo e soprava por cima dos grossos tapetes, sem conseguir alcançar Poeirinha. Aquela “gente” que limpava a casa se incomodou com toda aquela ventania e fechou as janelas, deixando ela presa lá fora. Depois pegou um monstro de boca grande, que fazia um barulhão e puxava todos os pelos soltos para dentro da barriga.

Aí sim,Poeirinha se assustou.

Subiu o mais alto que pôde e começou a gritar e gritar por sua amiga Ventania. Esta, queria muito ajudar, mas com as janelas fechadas, não havia como entrar na casa.

O monstro barulhento se aproximava mais e mais. Poeirinha já podia sentir-se sendo puxado para a grande pança e gritava ainda mais alto pela amiga.

Ela, desesperada, dava voltas e voltas pela casa, procurando uma maneira de entrar, até que, passando por cima do telhado, descobriu uma chaminé.

Rápida como um cometa, passou por ela, espalhando fuligem por toda a parte e quando a boca do monstro chegava bem perto de Poeirinha, puxando ele com força, Ventania ventou mais forte ainda, pegou o amigo e voltaram juntos pela chaminé.

Os dois amigos continuaram suas viagens pelo mundo e Poeirinha passou a ouvir, sempre, o que Ventania dizia, pois sabia que ela só queria coisas boas para ele.”


Depois de ouvir a história, a menina não estava mais esperneando, gritando e chorando.

Lembrou-se de como era divertido brincar com o primo. Deu a mão para a mãe e disse:

- Vamos mãe. Vamos logo, que o primo já vai chegar...


MARIA HELENA CRUZ
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-cap. III-

A Quase Fada conta
Uma história
Sobre o
País do sussurro

Por que será que irmãos estão sempre reclamando um do outro, hein?

Eu acho que o amor entre eles é tão grande, que eles tentam disfarçar arrumando confusão.

Certo dia passava perto da sombra da árvore de Quase Fada, dois irmãos. O irmão, que parecia maior, estava empurrando a irmã, só porque ela estava cantando a musiquinha nova que havia aprendido na escola.

E ele empurrava, reclamava, implicava tanto que a irmãzinha se pôs a chorar.

A Quase Fada não gostou e chamou os dois para conversar. O menino foi logo dizendo que a irmãzinha era muito chata e não queria se calar. Isso fez Quase Fada se lembrar de uma história:

“Sabem? Ontem passou por aqui uma cigarra muito sussurrosa. De início, pensei se tratar de uma cigarra muda, mas por um instante me pareceu a ouvir sussurrar assim:

-Oh céus!

Então me aproximei um pouco mais, e escutei um:

- Ops!

Ela colocou as anteninhas sobre a boca, e se encolheu dentro da folha onde havia pousado.

Curiosa, eu quis saber o que estava acontecendo:

- por que esta tão calada Dona Cigarra?

- Bem... Sabe me dizer se podemos falar alto por aqui? Não quero ter mais problema como no País do Sussurro...

- País do Sussurro? Como assim?

- Então? Posso falar alto?

- Claro! E que tal começar me falando sobre essa história de País do Sussurro?

- Acontece que há alguns dias atrás, uma ventania, dessas de carregar todas as folhas de uma árvore, me levou longe, longe. Mais longe do que eu iria com minhas lindas e verdejantes asinhas...

Ela disse ainda que era um lugar bonito, mas queria mesmo é saber como voltar ao seu jardim. Então, procurou por alguém que lhe pudesse dizer onde estava, e qual direção seguir.

Andou, andou... Voou, voou... Até que encontrou um caracol, perguntou que lugar era aquele e ele disse em um sussurro, tão sussurrado que ela mal podia ouvir:

- País do Sussurro, então, por favor, sussurre ...

E ela falou alto:

- Por que preciso sussurrar?

Foi nessa hora que ouviu um zumbido que quase a deixou surda, e quando deu por si, um bando de abelhas abelhudas estavam segurando suas patinhas, suas asinhas e até suas anteninhas, e todas zumbizavam:

- Sussurro... Sussurro...

- Ai! Mas afinal, pra quê tanto sussurro?

Uma abelhinha, pequenininha feito uma daquelas formigas que aparecem, avisando que vem chuva, se aproximou de seus ouvidos e zumbiu baixinho para que nem suas companheiras a ouvissem:

- Sussurre, pois se não, o rei acorda e está formada a confusão

- Rei? Que rei? Pensei que abelhas tivessem rainha e não rei!

- Pois temos uma rainha, mas o rei sapo sequestrou a colmeia e disse que se não fizermos todos na mata só falarem em sussurros, e se não lhe dermos todos os insetos que ele quiser comer, ele engole nossa rainha com uma só linguada.

- Oh céus!

Sem mais conversa as abelhas levaram Cigarra a presença do rei, que bocejava tentando espantar o sono:

- Ah, como é bom cochilar ouvindo só esses doces zumbidos!

Por toda a mata, se via insetos calados e apreensivos. Na verdade estavam apavorados:

- Ora,ora! Temos uma nova súdita.

- Não senhor. Não sou daqui e nem pretendo ser sua súdita...

- Ora essa! Quem disse que meu almoço pode falar? Todo esse falatório acaba me dando indigestão. Abelhas façam esse almoço se calar.

As abelhas saltaram sobre a Cigarra, que gritou ainda mais alto:

- Seu sapo gordo. Só se diz rei porque essas pobres criaturas se acham mais fracas que você. Mas  um dia descobrirão que se ficarem juntas poderão ser mais fortes que tudo,  e será o fim do seu reinado...

As abelhas já estavam segurando forte suas patinhas, suas asinhas e até suas anteninhas... Quando pararam para pensar um pouco e se lembraram de como eram fortes, antes que aquele sapo gordo e feio sequestrasse a colmeia, e de como ficam muito mais fortes quando estão todas juntas.

Elas gritaram a todos os outros insetos que estavam próximos ouviram, e esses insetos gritaram mais alto ainda para os que estavam mais longe:

- Vamos todos juntos destronar o rei sapo.

Todos os insetos da mata se juntaram, indo em direção ao rei sapo, que de verde, ficou roxo de tanto medo. A cigarra tomou frente do grupo.

O rei sapo até que tentou pegar a Cigarra com sua língua enorme e grudenta.

As abelhas lhe picaram a língua e ele, coaxando de dor, saltou para o rio e fugiu para longe, longe.

Os insetos decidiram que todos tinham o direito de sussurrar ou não, claro que respeitando o limite dos outros, não é? Pois a força é feita pela união e união só se consegue respeitando e aceitando as necessidades dos outros...”


O irmão, que antes estava brigando com a irmãzinha, ficou pensativo depois da história, então a menina disse:

- Me desculpe, mas eu aprendi essa música nova e gostei muito... Queria que você também escutasse e quem sabe a gente pudesse cantar juntos... Ia ficar mais bonita ainda!

- Tudo bem, tudo bem... Pode cantar sua música e quem sabe se a gente ficar mais tempo juntos, aquele valentão do Pedro pare de implicar tanto comigo... Agora conta outra história Quase Fada?

- Hummmm! Melhor não. Está ficando tarde e é hora de irem para casa. Voltem amanhã e contarei uma história novinha para vocês.”


MARIA HELENA CRUZ
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-cap.IV-

A quase fada
Conta um conto de
Papai Noel

Os dias, no mundo dos humanos, custavam muito a passar, mas mergulhada em suas histórias, a Quase Fada até se divertia com todos os seus amiguinhos.

Certo dia, as crianças chegaram mais cedo e mais alvoroçadas que nunca. A Quase Fada quis saber o porquê e eles contaram, meio sem fôlego que as férias tinham chegado e  iam ficar um montão de dias sem ir à escola, brincando o dia todo e... Mais legal ainda!... Logo, logo chegaria o natal e aí viria o Papai Noel ...

Ao ouvir isso, um pequenino olhou pensativo para a Quase Fada e perguntou:

- Quem é Papai Noel?

- Ah! Papai Noel é um grande amigo das fadas, que, assim como nós, gosta de ver as crianças felizes. Sabem? Um dia Nicolau, de passagem pelo Reino das Fadas, me contou como ele se tornou o Papai Noel...


“Ele disse que vivia  lá na Finlândia, há muitos anos atrás.

Era um senhor muito sério e rabugento. Todas as crianças tinham medo de brincar perto de sua casa, pois diziam que se um brinquedo caísse em seu jardim, nunca mais voltava para as mãos de seus pequenos donos.

Nas noites de natal, Nicolau mal punha o nariz para fora. Porém em certa ocasião, algo diferente aconteceu. Ele ouviu uma bola pular lá fora...

Quic... Quic... Quic...

E a bola quicava e quicava.

Nicolau ficou muito, muito incomodado, mas a bola continuava quicando.

De repente ele ouviu um quicado diferente.

O quicado se aproximou de sua janela.

A bola havia caído em seu jardim e agora seria sua propriedade. Nicolau correu para tomar a bola antes que a criança mal educada a pegasse de volta.

Quando chegou ao jardim, olhou tudo, mas não havia nenhuma bola. Também não havia nenhuma criança na rua. O que será que aconteceu?

Ele resolveu olhar um pouco as casas da vizinhança. Estavam todas enfeitadas com luzes, duendes, renas...
Nicolau também quis olhar para o céu. Estava nevando e ele gostou de sentir os flocos de neve tocar seu rosto e derreter. Fechou os olhos e os flocos continuavam a derreter tocando em sua pele.

Sem esperar, ele começou a sentir um calorzinho e resolveu abrir os olhos.

Entre os brancos flocos de neve, Nicolau viu que uma estrela descia do céu e vinha em sua direção.

Não acreditando no que via, esfregou os olhos, fechou bem apertado e quando voltou a abrir, viu que a estrela continuava descendo e se aproximando, se aproximando, se aproximando e foi parar lá dentro, bem no fundinho do coração de Nicolau, que sentiu aquele calorzinho gostoso no peito.

Depois daquele dia, Nicolau, que era carpinteiro, começou a fazer brinquedos e mais brinquedos de madeira.


Durante o ano ele criava, inventava, fazia muitos brinquedos, mas  gostava mesmo é de quando chegava à noite de natal.

Então Nicolau pegava todos os seus brinquedos, colocava em um saco, enchia o trenó e ia, junto com sua esposa, entregar os brinquedos nos orfanatos e nas casas de crianças pobres que haviam nas proximidades.

Certa noite de natal, quando Nicolau e a esposa, vinha de sua longa jornada para entregar seus brinquedos, houve uma terrível tempestade de neve. As renas que puxavam enfrentaram a tempestade bravamente, mas ao passar próximos a uma grande montanha coberta de neve, houve uma avalanche que os cobriu de neve.
Algo não deixou que a neve os esmagasse, formando uma caverna escura e gelada. Exaustas, as renas adormeceram. Nicolau aninhou a esposa em seu colo e logo os dois também dormiram. Tudo ficou tão escuro e tão calmo...

Vozes...vozes...vozes...

Nicolau começou a ouvir vozes, muitas vozes e abriu os olhos para ver de onde vinham.

A tempestade já havia passado e eles não estavam mais presos  na caverna de neve. Todos pareciam bem, mas ainda dormiam, e ele continuava ouvindo vozes, mas de onde?


Logo, os donos das tais vozes, chegaram bem perto de Nicolau e ele pode ver os pequenos homenzinhos vestidos de verde, que se aproximaram e gritaram em coro: “olá Papai Noel”.

Nicolau não entendeu, mas os homenzinhos trataram de acordar os outros e levaram todos para um lugar que se parecia com uma grande e colorida fábrica de brinquedo. Tudo era muito alegre, mas com a aparência de estar abandonado.

Os homenzinhos disseram que esperaram Papai Noel por muito, muito tempo, mas valeu a pena tamanha espera.

Nicolau não parava de repetir seu nome e dizia que não se chamava Papai Noel, então os homenzinhos lhe disseram que agora Nicolau havia sim, se tornado o Papai Noel e que viveria para sempre naquela fábrica de brinquedos, lá no pólo norte e que nas Noites de Natal entregaria presentes a todas as crianças boas do mundo todo.

Ele não acreditou. Imagine! Entregar presentes às crianças do mundo todo. Então os homenzinhos lhe contaram um segredo.

Na Noite de Natal iriam fazer parar o tempo e lhe apresentaram as renas que comiam uma ração mágica e depois voavam, carregando o trenó pelos céus.

Nicolau e a esposa, então, ficaram por lá e todas as Noites de Natal ele, Papai Noel, voa pelos céus entregando presentes para as crianças do mundo inteiro e desejando a todos...


Um feliz natal!”

Como sempre, todos gostaram muito da história e o pequenino mais ainda.

Outra criança ainda completou:

- Não podemos nos esquecer de deixar um copo de leite e um pratinho de biscoitos para o Papai Noel, não é?

- Tem razão. Papai Noel trabalha muito, a noite inteira e adora quando encontra um lanchinho para recuperar as forças.”
MARIA HELENA CRUZ
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-cap.V-
A Quase Fada conta um conto de
Marília maltrapilha

O natal passou, as férias acabaram e as crianças voltaram às aulas. A Quase Fada passava horas cuidando da natureza, cantarolando e dançando pelo parque, enquanto as crianças não chegavam, mas em uma manhã especial, surgiu uma criança, toda esfarrapada e sujinha. Quase Fada quis saber por que ela não estava na escola e a criança começou a chorar:

- Não vou mais pra escola... Nunca mais vou pra escola.

Quase Fada não entendeu. Toda criança precisa ir à escola. Ela não conhecia ninguém que não fosse. A menos que estivesse com febre ou de férias, então quis saber direito o que estava acontecendo e recebeu uma explicação:

- Acontece que as outras crianças riram de minhas roupas velhas e a professora, que dizia ser minha amiga, nem brigou com elas... Ela também não gosta de mim, porque sou assim, esfarrapado...

Quase Fada lembrou-se de uma história, perguntou se o menino queria ouvir e ele, entre uma lágrima e outra, balançou a cabeça que sim...


“Minha amiga borboleta Dourada me contou que certo dia ela estava voando perto de uma janela de quarto de menina, quando não pode deixar de ver uma bonequinha de pano muito, muito triste.

Dourada quis saber o porquê de tanta tristeza e a bonequinha contou que a sua menina estava fazendo aniversário:

- Logo cedo ela ganhou tantos presentes! E eu a ouvi dizer, “que linda boneca! E fala e anda!!!” Ela passou o dia sem vir brincar comigo... Acho que ela não gosta mais de miiiiiiim!!!

Dourada ouviu as queixas da bonequinha e depois disse que não podia ser verdade, pois era impossível não gostar de alguém tão encantadora como ela. Mas Marília não pensava assim:

- Não é verdade, não é verdade. Marília maltrapilha é meu nome. Sou uma bonequinha de pano tão velha, encardida e esfarrapada... Ela está certa. Não pode gostar de mim assim.

Dourada tentou convencê-la, mas qual nada, Marília só chorava e se lamentava, então, Dourada teve uma ideia.

A borboleta voou, voou em volta da bonequinha e depois de alguns vai-e-vens Marília maltrapilha se tornou uma bonequinha “de ouro”, coberta com o pó das asas de Dourada.

A bonequinha ficou muito feliz e Dourada foi embora .

Marília escalou a cama para alcançar a janela, tentando agradecer a ajuda da amiga borboleta e tanto se esticou, chamando por ela, que... caiu janela abaixo.

Todos os bichinhos do jardim viram, se admiraram e chegaram bem pertinho para ver a “boneca de ouro”.

Marília ficou toda prosa em ver tanto interesse por ela, que na verdade não passava de uma bonequinha maltrapilha.

Estava tão encantada que se esqueceu de tentar voltar para casa e nem percebeu que a tarde ia fugindo aos poucos para dar lugar à noite.

Pior!

Não viu as nuvens de chuva que se aproximavam bravamente.

Não demorou e uma tempestade começou a cair, lavando todo o pó dourado que estava sobre a bonequinha.

Os bichinhos do jardim, ao ver que ela era só uma boneca maltrapilha, zombaram da pobrezinha deixando ela sozinha e ainda mais triste.

A chuva parou rápido, mas a água continuou a rolar pelo bordado de seus olhos, em suas lágrimas de boneca.

A pobrezinha já não sabia o que fazer com sua vidinha de maltrapilha, quando ouviu longe, longe um choro que não era seu choro de boneca...

Era um choro de menina, o choro da sua menina.

Depois de procurar por toda a casa, sem encontrar sua bonequinha, a menina resolveu procurar uma estrela para fazer um pedido, pois queria de todo o coração, ter de volta, sua amada Maltrapilha.

Abriu a janela e antes que fizesse seu pedido...

Surpresa!!!
Viu sua Maltrapilha encostadinha na parede, embaixo da janela. Pegou um cobertor e correu até ela

A bonequinha estava encharcada, mas a menina, depois de embrulhá-la no cobertor, colocou Marília no cantinho da cama e, juntas, dormiram a noite inteira.

Na manhã seguinte, Dourada voltou lá e Marília maltrapilha, muito contente, contou toda a história.

Dourada me disse que ela, a menina e a Maltrapilha viveram
Muitas outras aventuras. Mas estas outras aventuras, a gente conta
Outro dia, não é?”

Antes que a história terminasse, uma mulher bonita e bem vestida se aproximou, sem que o menino percebesse e também ficou ouvindo. Quando acabou o menino se levantou e abraçou a Quase Fada. A mulher também se chegou mais perto e abraçou os dois.

O menino ficou mais alegre ainda ao ver que a professora sua amiga tinha ido procurar por ele e aí entendeu que quando alguém gosta de alguém, não é por causa de suas roupas, mas pelo que se é no coração.








-cap.VI-
A Quase Fada conta um conto de
Duende no fim do arco-íris

Mais uma vez as crianças chegaram para brincar com a Quase Fada e a encontraram, estranhamente pensativa. Sentada sobre uma grande raiz. Tanto que nem percebeu a presença dos amigos que, é claro, quiseram saber o que estava acontecendo:

- É que estou com saudades do Reino Encantado das Fadas e de minhas amigas de lá. Queria tanto saber se nasceram novos botões de fada... Oh joão! Você está chorando?

- Eu também estou com saudades do meu pai. Ele viajou para trabalhar e já faz dias que não o vejo... Sabe? Ele disse que quando chegar me traz um presentão! Mas eu só queria que ele me desse um dia inteirinho pra jogar bola e andar de bicicleta, só nós dois...

- Entendi. Olha! Está vindo uma chuva fina... Onde tem chuva fina tem arco-íris...

Mal a Quase Fada falou e debaixo de um solzinho gostoso surgiu uma nuvem, que derramou uma chuva fininha e logo, logo surgiu um lindo arco-íris...

- Sabem?Me disseram, certa vez, que no fim de todo arco-íris tem um grande pote de ouro, que é guardado por um duende muito esperto e poderoso e isso me lembra uma história:

“Certa vez um menino, que tinha o mesmo nome que você João, decidiu pegar o pote de ouro no fim do arco-íris. 

Ele esperou dias, até que, em uma tarde ensolarada veio a chuva e quando ela estava quase parando, surgiu o tão esperado arco-íris.

João pegou uma mochila cheia de frutas para matar sua fome no caminho e começou a seguir o arco-íris, que parecia fugir do menino. Mas ele não desistiu. Andou, andou e... Não encontrou o final do arco-íris, que acabou sumindo.

Ele ficou muito chateado, então apareceu um pássaro grande, tão grande quanto João nunca tinha visto. Justo ele que conhecia todos os pássaros e de todos os tamanhos.

O pássaro pousou em um galho bem perto de João e perguntou:

- O que está procurando menino?

- Procuro o grande pote de ouro no final do arco-íris.

O pássaro caiu do galho, de tanto rir:

- Ora! Andando sobre esses pés, nunca encontrará o fim do arco-íris.

- Então o que faço.

- Precisa voar. Abra os braços e voa, assim...

João abriu os braços e começou a bater. Mas... Nada de voar:

- Acho que precisa de um empurrãozinho. Suba no galho mais alto da árvore e salte batendo os braços. Voará com certeza.

E João fez o que o pássaro mandou. Subiu no galho mais alto, bateu os braços e saltou... Acabou esborrachado no chão.

Todo doído se levantou:

- Não tem jeito! Não consigo voar. Vou encontrar o final do arco-íris andando mesmo... É só esperar outro chuvisco e o sol me mostrará a direção.

- Ora! Então é melhor esperar em outro lugar. Por estas bandas não chove uma só gota há muito tempo e nem choverá tão cedo... Melhor ir agora! Vá, vá.

- Não acredito, não acredito mesmo. As plantas aqui estão tão verdinhas! Com certeza aqui chove bastante.

- Ora! –disse o pássaro- Engano seu. O que acontece é que essas plantinhas não gostam de chuva e por isso estão tão bonitas.

- Sei não, sei não...

- Se quiser, posso voar com você para procurar um lugar onde chova muito e te levo ao final do arco-íris. O que acha?

- É. Pode ser! Você é grande, talvez seja seguro voar em suas costas.

O menino subiu nas costas do pássaro. 

Mal saiu do chão, João ficou azul de medo e tanto se mexeu que caiu no chão outra vez:

- Ora! Não seja bobo. Não precisa ter medo de voar, e vamos logo antes que comece...

- Antes que comece o que?

- Nada, nada. Suba e vamos tentar de novo...

Antes que João subisse nas costas do pássaro, olhou para o céu e viu umas nuvenzinhas se aproximando e elas pareciam estar prontas para chover:

- Não, não, não! É aqui mesmo que vou ficar. Já está começando a chover e logo, logo o arco-íris aparecerá outra vez.

O pássaro ficou furioso e pegou o menino pela camisa para levá-lo para longe, mas a chuva começou a cair de mansinho e como a nuvem era fina e delicada, o sol a atravessou e fez surgir um lindo arco-íris. 

No mesmo instante o pássaro se transformou em um homenzinho vestido de verde, que caiu sobre o menino e quando João olhou para o lado, viu o final do arco-íris e um pote de ouro ainda maior do que ele imaginara.

O duende se desesperou:

- Não, por favor! Não leve meu pote de ouro, pois sem ele eu ficarei sem meus poderes e perderei meu posto de duende guardador... Faça um desejo, qualquer desejo e eu lhe concederei.

João pensou, pensou e teve uma ideia:

- Está bem, está bem! Fique com seu pote de ouro, mas eu desejo que quando  voltar para casa, eu tenha tanto ouro quanto há em seu pote. Tudo bem guardado em meu quarto.

- Concedido.

João voltou para casa e encontrou todo o seu ouro, bem guardado em seu quarto. Quanto ao duende, seguiu sua vidinha de guardador do pote de ouro, que fica no
fim daquele arco-íris”

-Puxa! Se eu encontrasse um duende não iria querer saber de ouro. Pediria para meu pai ficar comigo todos os dias.

- Tem razão João. Há coisas muito mais importantes do que ouro e a família é a mais importante de todas.

- Você conhece algum duende?

- Ainda não, mas eu sei que se a gente desejar algo com muita força, tudo pode acontecer...

João, a Quase Fada e todas as outras crianças que estavam com eles fecharam os olhos e desejaram que o pai dele passasse mais tempo com o menino.

Quando abriram os olhos, João viu seu pai se aproximando lá longe e correu para encontrá-lo.

O pai contou a João, que havia conseguido um emprego na cidade e eles se veriam todos os dias.







-Cap.VII-

A Quase Fada volta ao
Reino encantado das fadas

É!!

Quase Fada sempre tinha uma história nova para contar e aguardava ansiosa pela chegada das crianças, mas durante as noites viajava em sonhos sobre ela mesma.

Sonhava poder ver sua casa de novo, o jardim e muitos canteiros de botões-de-fadas de onde todos os dias nasceriam muitas fadinhas para cuidar e proteger as crianças da terra.

Em uma dessas manhãs, onde o sol acorda brilhando cedo, cedo, a Quase Fada estava a cirandar entre as árvores do parque, quando ouviu um bater de asas que ela não ouvia há muito, muito tempo.

O barulho vinha de perto da árvore por onde ela chegou do Reino Encantado das fadas e onde ela dormia todas as noites para se sentir mais perto de casa.

Correu para ver o que era, e encontrou uma de suas amigas fadas procurando por ela desesperadamente:

- O que você está fazendo aqui?

- Vim para levá-la de volta ao Reino Encantado das fadas... Você conseguiu...

- Mas ainda não descobri qual é o meu talento! Não posso voltar para casa.

- Claro que descobriu. Por sua causa, o reino está cheio de canteiros de botões-de-fadas e todos os dias nascem dezenas de novas fadinhas... As coisas estão ficando muito movimentadas por lá!

- Mas não pode ser... Ainda não descobri minha magia.

- Vamos... Venha comigo e veja por si mesma.

No oco da árvore, o portal se abriu e logo que passou por ele, a Quase Fada viu centenas de novas fadinhas voando pelo bosque e montes de canteiros de botões-de-fadas. Alguns prestes a florescer e outros começando a brotar. A Quase Fada ficou encantada:

- É lindo! Mas não foi por minha causa... Eu não fiz nada!

- Claro que fez. Quando você foi para a terra e contou suas histórias, fez com que muitas crianças voltassem a acreditar na magia. Estas crianças contaram à outras, que contaram à outras e continuam contando, fazendo a magia crescer mais e mais a cada dia...

- Mas... Eram só histórias...

- Eram histórias que transmitiam magia e faziam sonhar... Transmitiam o encanto da simplicidade e da alegria...

- Então já posso voltar para casa?

- Claro! Se quiser, nunca mais precisará deixar o Reino Encantado das Fadas.

A Quase Fada ficou ainda mais feliz, quando a própria rainha das fadas veio e disse que ela não seria mais chamada de Quase Fada, mas de Fada Contadora de Histórias.

Quanto a nunca mais deixar o reino encantado das fadas, ela não concordou. 

Todas as tardes entrava pelo oco da árvore e voltava à terra, onde sempre contava novas histórias para as crianças que visitavam o parque.


E, assim,
Quase Fada
Se tornou a
Fada contadora de histórias