CONTOS POPULARES


O PRESENTE DO PINHEIRINHO - conto clássico de Natal

 Quando o menino Jesus nasceu naquela manjedoura, seguindo a Estrela Guia, muitos quiseram presenteá-lo, dando-lhe o que cada um tinha de melhor. 
   
  
  Pois muito perto dessa manjedoura, haviam três árvores que também queriam presentear a criança, sendo elas uma palmeira, uma oliveira e um pinheiro.
  
  A palmeira disse:


  - Já sei o que darei ao menino Jesus! Lhe presentearei com a minha maior palma que servirá de abano para refrescar-lhe o calor...


  A oliveira interrompeu para dizer:


  - Pois também já sei o que darei ao menino! Espremerei minhas olivas e lhe farei um óleo puríssimo e delicado para massagear seus pés... Será um ótimo presente.



  - E eu, o que poderei dar ao menino?
  - Ora essa! Você? Você não tem nada a dar ao menino. - disseram as duas primeiras árvores -Seus espinhos só iriam ferir a delicada pele da criança...


  O pinheirinho ficou muito triste, pois sabia que as outras diziam a verdade, mas  ele queria muito dar um presente ao menino e se pôs a chorar.


   Os anjos viram a tristeza do pinheirinho e o seu desejo sincero e então ordenaram às estrelas que cobrissem o pinheirinho e elas obedeceram.


 O menino ficou muito feliz ao ver arvorezinha toda iluminada pelas estrelas. Até mesmo a estrela guia lhe emprestou sua luz, pousando no topo do pinheirinho.
  Assim, até hoje, enfeitamos o pinheirinho com luzes e brilho para a noite de Natal.


MARIA HELENA CRUZ
 


Certa vez, um homem que não tinha sorte nenhuma na vida, resolveu sair pelo mundo a procura do Senhor Deus Criador para saber o porquê de tamanha falta de sorte.

Assim ele se foi e essa era a primeira vez que o Homem Sem Sorte deixava sua casa para procurar alguma coisa e ele não fazia ideia de onde encontrar o Senhor Deus Criador.

Depois de um ano e um dia de caminhada, ele ouviu um grito assustador, aterrador mesmo, que parecia sair das próprias entranhas da terra. O Homem Sem Sorte foi ver o que era.

Acabou encontrando um lobo preso em um buraco.

O pobre lobo estava encostado na parede do buraco, se esforçando para manter-se de pé e gemia de tanto sofrimento, então o homem perguntou:

- Má o qué qui o sinhô lobo ta fazeno aí, gritano dessa manera, sô?

- Ai! Eu não sei não moço. Tem uns dez dias que eu comecei a ficar fraco, fraco... Agora, mal consigo me levantar do chão... Será que o moço não poderia me ajudar a me levantar e...

- Ara! Numa posso não sinhô lobo. Cuntece qui to prucurano pelo Sinhô Deus Criado, pra mor de ele mim dizê o pru quê de eu nunca tê tido sorte na vida, a mor di qui eu num tenho tempo de Pará pra ajudá o sinhô.

- Então está bem moço, mas já que o senhor vai encontrar com o Senhor Deus Criador, o senhor poderia perguntar a ele por que é que estou assim tão fraco?

- Mas craro sinhô lobo! Pode dexá cumigo.

E seguiu em sua procura.

Fazendo um ano e dez dias o Homem Sem Sorte procurava pelo Senhor Deus Criador, ele ouviu outro grito tão assustador ou mais, que o grito do lobo e correu para ver o que era.

Chegando a beira do rio, ele encontrou uma árvore desfolhada, seca, toda torta e quase caindo dentro do rio. A pobre árvore gritava em desespero e quando viu o homem, implorou por ajuda:

- Moço, moço! Me ajuda moço.

- Má o qué qui tá acunteceno dona árvre?

- Ai moço! Já faz muito tempo que estou sentindo um calor em minhas raízes. Mas um calor tão forte, mas tão forte que este me matando seu moço. Será que o senhor poderia me ajudar?

- Ara! Má num posso não dona árvre. Cuntece que tenho di incontrá o Sinhô Deus Criado, pra mor de sabê dele o pruquê di eu num tê sorte na vida i num posso Pará cum a minh procura, sô!

- Está bem, moço. Mas já que o senhor vai ter com o Senhor Deus Criador, poderia perguntar a ele o porquê de eu estar sentindo esse tamanho calor em minhas raízes?

- Má é craro dona árvre...

E ele seguiu em sua busca.

Fazendo um ano e vinte dias que o Homem Sem Sorte procurava por Senhor Deus Criador, encontrou entre lindos jardins, uma casa muito bonita, toda adornada em ouro e pensou:

- Ára, má qui casa bunita,sô! Uma casa Bunita anssim, só pode sê a cãs do Sinhô Deus Criado.

Decidido, certo de que havia encontrado a morada do Senhor Deus Criador, o homem bateu na porta.

Logo ouviu a fechadura e em seguida a porta se abriu.

À porta, o Homem Sem Sorte viu a mulher mais bonita de todo o mundo:

- Pois não, senhor?

- Ara! Mais aqui num é a morada do Sinhô Deus Criado?

- Não senhor. Aqui moro eu, apenas.

- Intonce vô tê qui continuá buscano, ara!

- Mas antes o senhor não gostaria de entrar e tomar um refresco?

- Num sei. É qui to cum bucado di pressa, num sabe?

- Acontece que acabei de fazer uma laranjada deliciosa e...

- É. Acho qui Tuma uma laranjada vai inté aliviá u peso da viagem.

O homem entrou na casa por um momento e enquanto se refrescava com a laranjada, a moça lhe falou de suas dores:

- Ai moço! De uns tempos para cá, tenho sentido uma dor tão grande no peito. Um vazio tão imenso, que me tira a fome, a alegria... Será que o senhor não podia me ajudar a curar essa dor?

Terminando sua laranjada e já deixando a mesa para se pôr na estrada, disse:

- Ara! Má num posso não. Tenho qui seguí caminho pra incontrá o Sinhô Deus Criado e preguntá prele, pru quê qui eu sô anssim, tão sem sorte na vida. Num posso memo, moça.

- Está bem então, mas já que o senhor vai ter com o Senhor Deus Criador, pode perguntar a ele o porquê dessa dor, desse vazio tão grande no meu coração, que não me deixa ser feliz.

- Bão! Num sei si vorto por esse caminho, mais eu pregunto prele i si eu incontrá cum a sinhora tra veiz, eu trago resposta.

E o homem seguiu seu caminho novamente

Ao cabo de um ano e quarenta dias de procura, ohomem se deparou com uma montanha muito alta e, certo de que, lá, encontraria o Senhor Deus Criador, subiu a montanha com muita dificuldade, mas também com tal esperança.

Lá no alto, ele finalmente encontrou o Senhor Deus Criador:

- O que deseja, homem?

- Ah, Sinhô Criado...- disse o homem, beijando-lhe as mãos e se ajoelhando – Finarmenti incontrei o sinhô. Eu vim aqui pra sabê do sinhô o pruquê de eu sê tão sem sorte ansim. Pru que qui é qui o sinhô num mi deu sorte nessa vida Sinhô Deus Criadô?

- Entendo, mas eu não dou sorte para ninguém. O que dou a todos os homens, são oprtunidades e as dei, também, à você. Basta que preste atenção pelos caminhos onde anda e as oportunidades estarão sempre à sua volta.

- Jura! Intão qué dizê qui a minha sorte ta sorta aí pelo mundo? Intão eu tenho qui vortá pra incontrá ela, ara! Muito brigado Sinhô Deus Criado... Muito brigado... – o homem já ia partindo, quando se lembrou – Ah, sinhô! Quais qui mim isqueço...

E o Homem Sem Sorte fez a pergunta do lobo, fez a pergunta da árvore, fez a pergunta da moça e depois sim, seguiu seu caminho.

Na viagem de volta, passou pelo mesmo caminho e logo chegou perto da casa da moça. Ela estava na janela e quando viu o homem, correu para saber:

- Moço, moço. O senhor perguntou ao Senhor Deus Criador o porquê dessa dor e desse vazio no meu peito?

- Preguntei, craro qui preguntei.

- E o que ele disse?

- Bão! Ele falou que a sinhora percisa é arrumá um companhero, pois o qui sente é solidão. Quando tivé uma companhia essa dô i esse vazio vão acabá i a sinhora vai sê muito filiz...

A moça abre um sorriso, balança a saia e começa a enrolar os cachos com as pontas dos dedos, depois pergunta:

- Moço, o senhor não gostaria de entrar e tomar um copo de laranjada fresquinha?

- Não, não! Num posso moça. Tenho qui saí a prucura da minha sorte qui ta sorta por aí.- disse ele, já tomando distância – Adeus moça. Bunita e cheia das riqueza, como é, a sinhora num vai demorá a incontrá argúem i vai sê muito filiz.

Alguns dias depois, ele encontrou a árvore, que estava ainda mais desfolhada, mais seca e mais perto de cair no rio:

- Moço, o senhor encontrou o Senhor Deus Criador e lhe fez minha pergunta?

- Incuntrei sim i ele disse qui o qui ta dano essa caloria nas suas raízes, é um baú, cheim di mueda, qui tá interrado imbaxo di suas raiz i é só argúem tirá esse baú, qui a sinhora vai ficá novinha em foia.

- Ai, moço! O senhor poderia tirar o baú e ficar com as moedas. Afinal, eu sou uma árvore e não preciso de riquezas e ouro.

- Ara! Num posso não dona árvre. Tenho di incuntrá minha sorte, qui ta sorta aí pelo mundo, pois dessa veiz num tem jeito. Vô sê u homi mais sortudo do mundo, sô.

E o homem se foi.

Mais alguns dias, o homem encontrou o lobo dentro do buraco, ainda mais magro e fraco que, quase sem voz, perguntou:

- Moço, o senhor perguntou ao Senhor Deus Criador por que eu estou com essa fraqueza toda?

- Ara! O Sinhô Deus criado falô qui ocê ta fraquim ansim, pru que ocê num come i é só ocê cume arguma coisa qui vai ficá novim im foia, mais si num cume, logo, logo ocê vai morrê.

O lobo, já cheio de idéias, abriu um sorriso malicioso, começou a salivar e disse:

- Ah moço! Já que vou morrer, eu queria lhe fazer um último pedido. Por favor moço, desça aqui e me dê um abraço... É só um ultimo pedido de um moribundo.

O homem pensou, pensou e se decidiu:

- Bão! Um abraço num muribundo, num vai mi atrasá, num é memo...

E o homem foi se aproximando... E o lobo foi abrindo a boca... E o homem se aproximando e o lobo abrindo a boca... E o homem se aproximando e o lobo abrindo a boca... E...

NHOCT!!!

O lobo engoliu o homem em uma bocada.

Esse foi o fim de um homem que não soube aproveitar as oportunidades da vida, oferecidas pelo Senhor Deus Criador.

MARIA HELENA CRUZ















 
O SURRÃO

Há muito tempo houve uma viúva que vivia com sua única filha. Uma linda menina que tinha também uma maravilhosa voz.

“Com minha mãezinha feliz
Assim eu sempre serei
Amor maior do que esse
Na vida nunca terei”

Certo dia, a viúva foi com sua filha lavar roupas no rio, junto com as outras lavadeiras.

O sol estava alto. Fazia muito calor e a menina, cantarolando, se afastou da mãe e das lavadeiras para se banhar.

“Com minha mãezinha feliz
Assim eu sempre serei
Amor maior do que esse
Na vida nunca terei.”

Antes de entrar na água, a menina se lembrou do brinco de ouro que ela havia ganhado de seu falecido pai e, para que não o perdesse, ela o colocou sobre uma pedra e desceu às águas do rio.

Acontece que um homem, que trazia em suas costas um grande saco e em suas mãos uma bengala, estava a espreita entre as árvores e ficou encantado com a voz da pequenina e vendo os brincos sobre a pedra teve uma idéia.

A menina viu que a tarde estava chegando e achou melhor voltar para junto de sua mãe. Saiu tão apressada que se esqueceu dos brincos, mas antes de alcançar as lavadeiras, ela se lembrou e volto para pegá-los.

Quando alcançou a pedra... Onde estavam os brincos? A menina procurou, procurou...
Procurou muito, até que o homem, todo sujo e esfarrapado, saiu de trás de uma árvore dizendo:

- Procura por seus brincos, encantadora menina?

- Sim, procuro sim! O senhor os viu?

- Eles estão aqui... No fundo do meu surrão... – o homem abriu o saco -... e se os quiser de volta, terá de vir apanhar.

A menina, sem pensar, saltou no saco para apanhar os brincos e quando ela entrou o homem amarrou a boca do saco bem amarrada.

A viúva, mãe da menina, terminou de lavar sua roupa e foi procurar por sua filha. Olhou o rio, onde a menina costumava se banhar. Chamou, chamou, mas a filha não repondeu.
A viúva não desistiu, andou por toda a margem do rio chamando por sua filha. Sem resposta, ela continuou a procurar por toda a cidade e continuou procurando e procurando...

O homem do saco, em suas andanças pelo mundo sempre parava nas praças e coretos e juntava multidões, dizendo:

- Vejam todos. Vejam todos o meu surrão mágico. Apreciem a voz maravilhosa que ele tem.

Depois se dirigia ao saco, ameaçando com sua bengala:

“Canta, canta meu surrão
Se não eu vou lhe dar
Com a força do bordão”

E a menina, lá dentro do surrão, se punha a cantar:

“No meu surrão viverei
No meu surrão morrerei
Por causa dos brincos de ouro
Que lá no rio deixei”

E a cada cidade que houvesse uma praça, um coreto, o homem repetia:

- Vejam todos. Vejam todos o meu surrão mágico. Apreciem a voz maravilhosa que ele tem.

Depois se dirigia ao saco, ameaçando com sua bengala:

“Canta, canta meu surrão
Se não eu vou lhe dar
Com a força do bordão”

E a menina, lá dentro do surrão, se punha a cantar:

“No meu surrão viverei
No meu surrão morrerei
Por causa dos brincos de ouro
Que lá no rio deixei”

E o homem andou pelo mundo com seu mágico surrão cantor, enquanto a viúva andava pelo mundo em busca de sua filha.

Certo dia, a viúva certa de que já havia procurado por todos os lugares, resolveu voltar para casa, pensando:

- Quem sabe minha filha já voltou para casa e eu não estou lá para cuidar dela!

Quando a pobre viúva chegou em sua casa, não encontrou a filha, mas, enquanto ela foi a cozinha, virou a botija e se serviu de um copo d’água, alguém bateu em sua porta.

Já cansada da vida, foi vagarosamente atender.

Ao abrir, se deparou com um homem muito sujo e maltrapilho que lhe pediu:

- Minha senhora, sou um artista do mundo e tenho fome. Poderia me arrumar um prato de sopa? Em troca eu faria meu surrão lhe cantar uma linda canção, com sua voz mágica e maravilhosa.

A viúva achou que tal pudesse alegrar um pouco o seu coração ferido, então o homem gritou:

“Canta, canta meu surrão
Se não eu vou lhe dar
Com a força do bordão”

E a menina, lá dentro do surrão, se punha a cantar:

“No meu surrão viverei
No meu surrão morrerei
Por causa dos brincos de ouro
Que lá no rio deixei”

A viúva, imediatamente, reconheceu a voz de sua filha perdida e, muito audaciosa, disse ao homem:

- Ah moço, eu lhe faria a sopa, mas acabou minha farinha e até eu ir ao armazém o fogo apaga e não terei como prepará-la para o senhor...

- Não seja por isso minha senhora. Dê-me o dinheiro e lhe trago a farinha.

A viúva deu o dinheiro ao homem e lhe indicou o armazém que ficava longe, longe. Quase deixando acidade.

Quando viu que o homem estava longe, abriu o saco e, encolhidinha no fundo do saco, estava sua filha perdida.

A mulher pegou a menina no colo e lhe deu um abraço apertado. Depois:

- Vamos filhe. Temos de nos apressar...

As duas foram até o quarto, pegaram o penico cheio, que estava embaixo da cama e derramou dentro do saco. Depois foram até o galinheiro e encheram o saco de toda a caca de galinha que encontraram. Depois, no chiqueiro, pegaram toda a sujeira dos porcos e também colocaram no surrão. Saíram também pela vizinhança, recolhendo toda a sorte de sujeiras, como cocô, catarro de tosse...

Quando o homem estava chegando, a viúva escondeu a filha embaixo da cama e foi atendê-lo.

Preparou a sopa e o homem, depois de estar de barriga cheia, sugeriu que queria passar a noite naquela casa, mas a viúva disse que não ficaria bem e que ele não poderia ficar, e o convenceu a partir bem rápido.

Depois que o malvado se foi, ela tirou sua filha de debaixo da cama e vendo como ele estava magrinha e enfraquecida, preparou-lhe uma gostosa refeição e depois foram dormir juntinhas, bem feliz da vida.

Quanto ao homem, como sempre, parou na próxima cidade e novamente juntou o povo dizendo:

- Vejam todos. Vejam todos o meu surrão mágico. Apreciem a voz maravilhosa que ele tem.

Depois se dirigiu ao saco, ameaçando com sua bengala:

“Canta, canta meu surrão
Se não eu vou lhe dar com a força do bordão”...

Mas nada de o surrão cantar, e ele insistia:

“Canta, canta meu surrão
Se não eu vou lhe dar com a força do bordão”...

Mas nada de o surrão cantar, e ele insistia outra vez:

“Canta, canta meu surrão
Se não eu vou lhe dar com a força do bordão”...

Até que ele perdeu a paciência e começou a bater no surrão. Bateu, bateu, bateu, até que...

Bum!!!!

O surrão estourou, jogando toda a porcaria em cima do homem. A história se espalhou e ninguém mais quis saber de suas armações e o homem nunca soube o que havia acontecido com a menina


MARIA HELENA CRUZ








O AUTO DO BOI

"O Auto do Boi" já é representado pela Escola Municipal José Cali Ahouagi há alguns anos e em variadas ocasiôes. O "Chico" e a "Catirina", quando apresentado nas dependências da escola, são sempre seguidos por mais dois ou três pequenos que provavelmente atuarão como estes personagens no futuro...

Você conhece
"O Auto do Boi"?

É mais ou menos assim:
(os diálogos bem matutos)

O Coronel, que é o dono da terra, do céu e de todas as boiadas,vem chegando e chama pelo preto "véio" Chico, seu empregado de confinça:
- Chico... Oh Chico...
- Qué qui foi seu Curoné?
- Chico, eu tenho qui í pro Piauí. Vê se cuida de tudo por aqui. Principarmente do Boi Estrela, cê sabe qui ele é meu boi preferido, hein!
- Tá certo Coroné, tá certo... Pode í trenquilo.

E o Coronel se vai, logo em seguida, entra Catirina com uma barriga de quem está prestes a ter nenê:
- Chico, oh homi venha cá... Ochi! Eu tô cum desejo de cumê lìngua de boi, Chico...
- Podi dexá, pode dexá que vô lá no currar buscá uma língua di boi pro cê...

Chico já vai saindo para cumprir o desejo da mulher quando...:
- Peraê, peraê, peraê Chico. É qui num é língua di quarqué boi nâo...
- Há não?
- Não. É desejo di cumê língua do Boi Estrela...
- Não, não... O boi preferido do patrão!
- Chico! Se ocê num me dé a lingua do Boi Estrela, nosso fio vai nascê cum cara di bezerro.
- Ah, isso é qui não! Fio meu num vai nascê cum cara di bezerro. Vô pegá a língua du Boi Estrela.

Chico vai até o boi, mas para arrancar sua língua, os dois travam uma luta e depois de algum tempo, Chico consegue egar a língua do boi, mas o animal cai morto. Catirina se aproxima e vê:
- Ocê matou u Boi Estrela Chico?

Nessa hora chega o Coronel, voltando do piauí em seu cavalo.
Chico e Catirina tentam esconder, mas o Coronel acaba vendo seu animal preferido caìdo e morto:
- Chico,Chico! Ocê matô meu boi, Chico? Ah mais agora eu vô é pegá ocê tamém... Vem cá seu Chico, vem cá...

Chico corre do Coronel e o Coronel corre atrás do chico, até que Catirina entra no meio da confusâo:
- Espera, espera,espera Coroné... Dê uma chance a Chico.

Ela insiste, insiste, até que o Coronel aceita dar uma chance ao Chico, entâo Catirina cochicha para que Chico fale ao Coronel, para chamar o veterinário salafralho, o Drº Pinico Branco, que chega logo:
(Ele pergunta e todos respodem)
- O que é isso? É uma girafa?
- Não.
- Intonce é um elefante?
- Não.
- Que que é isso intão?
- É um boi.
- I o qui aconticeu cum ele?
- Morreu.
- Intonce já sei o qui fazê! Vô le dá uma injeção di fazê boi morrido, vivê. Agora oceis tem qui contá inté dez, pro bicho vivê, hein?
- Um... Dois... Três... Quatro... cinco... seis... sete... oito... nove...DEZ...

E o boi balançou, quase levantou e... caiu mortinho outra vez. O Coronel ficou muito bravo e correu atrás do Drº Pinico Branco e depois, correu atrás do Chico outra vez e, outra vez, Catirina entrou no meio da confusão:
- Dê mais uma chance pru Chico seu Curoné... Só mais uma chance!
- Tá bão, tá bão... Mais é só mais uma chance, hein!

Catirina cochicha na orelha de Chico e eles gritam:
- Margarida de Colocó...

Chega Margarida de Colocó, uma curandeira muito poderosa, capaz de fazer até bicho morto viver:
- U qui aconticeu cum esse boi? Ah, já sei! Le arrancaru a língua... Me dê aqui essa língua. Vô colocá a lingua do bicho di vorta e ocêis, junto cumigo, vão dá três espirro...
- Atchim... Atchim... Atchim...

Todos gritam maravilhados:
-E o boi viveu!!!

"Vem meu boi bonito
Vem dançar agora
Já deu meia noite
Já rompeu a aurora...

MARIA HELENA CRUZ