AS QUESTÕES DE JOANA




Joana é uma menina como qualquer outra menina. 


Adora brincar.


Apronta sem querer aprontar.


Gosta de ajudar.


E nunca deixa de perguntar...




AS QUESTÕES DE JOANA


... 

 É BRONCA DO CÉU?


Joana olha pela janela e vê que nuvens escuras estão cobrindo todo o azul do céu. Caio, seu amiguinho que está de visita se assusta:
- Ai, não! Que será que eu fiz agora? 
Joana não entende o porquê de tamanho espanto:
- Tem que fazer alguma coisa pra chover, é?
Caio todo atrapalhado, procurando por um lugar para se esconder, mal se explica:
- Ele vai me dar outra bronca, ele vai me dar outra bronca...
- Chora não Caio. É só chuva. Já vai passar!
O menino, todo tremendo e quase deixando escapar a primeira lágrima dá uma explicação meio esquisita:
- Quando criança é malvada, malcriada, Papai do Céu na gosta e aí ele vem dar bronca na gente, com seus raios e trovões. Isso é bronca do céu...
- Não, não, não Caio! – a menina dá um sorrisinho – Mamãe falou que são só raio e trovão de chuva mesmo...
...CABRUM...

Antes de Joana acabar de falar, um raio ilumina o céu e é seguido por um trovão ensurdecedor. 

Caio, aos saltos e gritos, chama pela mãe, enquanto Joana tenta acalmá-lo:

- Não chora, não chora. Já, já mamãe sai do banho e chama a sua mãe...
- Mas e se um raio me pegar???
- E raio pega gente?
- Pega, né Joaninha? Pega.
- Mas como é que pega?
Caio enxuga a lágrima respira fundo para engolir o choro e, mostrando ser sabido, tenta explicar melhor:
- Mamãe me contou, que quando criança é malcriada, papai do céu fica bravo e manda lá do céu, trovões, que é a voz dele dando bronca...

- É? Mas se o trovão é voz de bronca, e os raios? O que são?


- Ora, Joaninha! Os raios são as mãos dele pra dar palmada...


- Mas Caio! Não pode mais dar palmada em criança.


- Ah, é? E quem vai falar isso pro Papai do Céu? Eu é que não... Aí é que ele vai querer me dar palmada de raio mesmo, né?


- Será que ele ta bravo porque eu quebrei a jará de cristal da mamãe e escondi com os meus brinquedos velhos??


... CABRUM... BRUUUM... BRUM...


- Aaaaaaaaaaii!!!


Os dois dão um grande salto, um grande berro e se esconde embaixo da cama. Dona Luíza entrou quarto a dentro de roupão e toalha no cabelo:


- Mas o que aconteceu, crianças?


- Papai do céu ta bravo comigo mamãe.


- O que é isso minha filha? Do que está falando?


- Ele vai me dar palmada com sua mão de raio, porque eu fui malvada...


- Ah! Você está com medo do raios, é?


- É mamãe... E o Caio também.


- Não se preocupe filha. Raio é só mais um sinal de chuva...


- Mas o Caio falou que raio bate na gente...


Dona Luíza tira Joana de debaixo da cama, a senta no colo e começa a explicar:


- Bem! É verdade que um raio pode “bater” em gente...


Caio salta na frente das duas, se vangloriando:


- Eu não disse? Eu não disse? Raio é a mão do Papai do céu pra bater em criança malvada e malcriada.


- Não Caio! Não é assim. Acontece que os raios são cargas elétricas...


Joana interrompe:


- Elétricas? Como o que faz a luz acender?


- Isso mesmo. Sua energia é muito forte e, vez ou outra, acaba atingindo a terra, nos pontos mais altos. Aí é perigoso ficar em cima de telhado, de árvores, ou de pé em montanhas, morros...


- Então não é mão de Papai do céu?


- Não filha!


- Viu só Caio? Papai do céu não vai me dar palmada por ter e escondido a jarra de cristal da mamãe... OOPS!


Dona Luíza põe as mãos na cintura, franze as sobrancelhas, dá um sorriso malicioso. Depois fala:


- Papai do céu não vai te dar palmada de raio, mas minha filhinha querida acabou de
Perder aquele passeio no shopping este fim de semana...


O FIM DO MUNDO



Mais tarde, Joana chegou esbaforida, batendo a porta da sala com tanta força, que sua mãe também se apavorou e correu para saber o que estava acontecendo:


- Joana minha filha! O que aconteceu?


- É o fim do mundo, mamãe! É o fim do mundo!


- Ai filha! Você viu aquele filme bobo outra vez? Não se preocupe, o mundo não vai acabar em 2012 e ainda estamos em 2010...


- Não mamãe, não. Agora é verdade... Quem falou foi a mãe da Gabi e ela nunca mente...


- E o que foi que ela falou, filha?


- Ai mãe! – Joana estava tremendo de medo – Ela entrou dentro de casa gritando, “É O FIM DO MUNDO, É O FIM DO MUNDO”, aí eu vim correndo pra ver você antes que o mundo se acabe...


Já aos prantos, Joana abraça a mãe, que pega a menina no colo e vai até a casa de Marília, mãe de Gabi.


- Ai! Me desculpe Marília...


Ela conta o que aconteceu e dona Marília explica:


- Sinto muito Luísa, mas não foi nada disso. Acontece que chegaram as contas do mês e a conta de telefone veio com um valor absurdo... Foi por isso que gritei que era o fim do mundo. Não se preocupe Joaninha. O mundo não vai acabar não, viu?


Dona Luísa leva Joana para casa e lá explica:


- Está vendo filhinha. É só mais uma maneira de falar.


- Então o mundo não vai acabar?


- Não filha. A Marília só se assustou porque recebeu contas altas...


- Ah, mamãe! É só isso? Então é fácil de resolver.


- E como é que se resolve isso, filha?


- Então você não sabe mamãe? É só colocar uma caixa de correios mais baixa...


MARIA HELENA CRUZ

...




FOLHAS, FOLHAS E MAIS FOLHAS



Joana sempre observava com muita atenção o senhor José apanhando as folhas no jardim.

Com o carrinho de mão ao lado e vassoura na mão, ia assobiando e cantarolando o tempo todo...

 "Num rancho fundo
 Bem pra lá do fim do mundo..."
 Quando via Joana, abria logo um sorriso do tamanho do mundo.

 Joana retribuía com um maior ainda. Do tamanho do universo inteirinho. Tanto que quase não lhe cabia no rosto o tal sorriso e até dava cãibra em suas bochechas cor-de-rosa.

   Naquele dia, porém, o senhor José chegou todo triste.

  Não cantava...
  
 Não assobiava...

  Não abria aquele sorriso do tamanho do mundo.

 Joana perguntou o que havia acontecido e...:

 -Nada não, filha... Nada não.

  Então Joana, "esperta" que só, se pôs a olhar, para ver se encontrava algum motivo para o desânimo do moço e então...

  Joana finalmente percebeu o que havia de errado... SERÁ?

  A menina viu que naquele dia não havia nenhuma folha para o senhor José catar, então ela teve uma ideia.

  Pegou  a ferramenta de jardim mais comprida que encontrou e começou a cutucar, balançar e derrubar tudo que é folha de árvore e de todas as outras plantinhas que viu pela frente.

  Dona Marocas quando viu tudo aquilo, berrou:

  - JOANINHA, JOANINHA! O QUE É QUE A SENHORA ESTÁ FAZENDO NESSE JARDIM, SUA MALUQUINHA?

   A mãe de Joana, ouvindo a gritaria, foi ver o que estava acontecendo e, de tamanho susto, quase se esqueceu de respirar:

  - Minha filha, o que foi isso??? Resolveu brincar de furacão?

  - Não mamãe. Não é furacão não. É só para ajudar o senhor José a ficar feliz de novo...

  O jardineiro vinha chegando e também quis saber:

  - Me ajudar a ficar feliz de novo??? Como assim Joana?

  - Ah senhor José... O senhor estava tão tristinho hoje, que não assoviou, não cantou, nem me abriu aquele sorrisão do tamanho do mundo... Tudo isso porque não tinha nenhuma folha para o senhor catar, então para ajudar, eu adiantei as coisas e derrubei as folhas para o senhor...

  Dona Luíza começou a gargalhar elogo foi seguida pelo senhor José, mas dona Marocas...:

  - Ora! É por isso que essa menina está desse jeito impossível!

  - Ela tem uma razão Joaninha. O que fez não está certo. Eu não já te falei que não se pode destruir a natureza? O senhor José só cata as folhas que caem quando está velha, não pode derrubar as folhas novas e com tanto trabalho assim, ele vai ficar é mais triste...

   - Ah! Me desculpe senhor José, mas se o senhor assobiar, cantar e dar aquele sorrisão, eu prometo que ajudo o senhor...

   O moço abriu o sorrisão que Joana tanto gostava e até se esqueceu do que o deixou triste antes.

Assim, ele e Joana limparam e cuidaram do jardim na maior alegria. Assobiando, cantarolando e sorrindo à valer.


 Rapidinho o dia passou, a tarde correu e a noite chegou.


Joana então, bem feliz, foi dormir um soninho gostoso, com a certeza de que no dia seguinte, haveria muito mais "aprontações" e alegrias.

MARIA HELENA CRUZ