segunda-feira, 14 de maio de 2012

AMIGO IMAGINÁRIO











Sempre ouvi de minha mãe que essa história de amigo imaginário não existe, mas certo papagaio me contou que há muitos anos atrás... Vocês sabem como um papagaio pode viver muitos anos não é?...


Como eu dizia, há muitos anos atrás, esse papagaio, o Loro, conheceu uma andorinha, a Andora Viajandante.


Andora Viajandante estava sempre viajando daqui, pra ali... De lá pra cá procurando por um lugar ao sol, porque ela só fica mesmo, em lugares que haja sol, sabe? Então, em uma dessas viagens, do alto de uma árvore bem copada, Andora Viajandante viu um pequenino coala triste, triste da vida.


Enquanto os outros filhotes estavam muito ocupados agarrados nas costas das mamães coalas, começando a aprender a segurar nos galhos de árvores e saboreando muitas e muitas folhas novas de eucalipto, Cody, o pequenino coala triste, só comia uma folhinha quando tinha muita, muita fome mesmo e se sentia tão sozinho, que estava sempre sentadinho no mesmo galho, perto do grosso tronco do eucalipto onde vivia com sua mamãe.


Por mais que a mamãe fosse atenciosa, chamasse Cody para se deliciar com as mais novas e suculentas folhas de eucalipto, o pequenino coala triste não ia, não queria, não sentia nenhuma vontade...


Ele queria brincar com os outros coalas, mas os outros coalas não queriam brincar com ele.


Quando tentava brincar com os maiores, diziam:


- Você é muito pequeno... Não vai conseguir pular os galhos como a gente... Você é muito miúdo, vais acabar se machucando...


Quando tentava brincar com os menores, eram as mães que diziam:


- Não, não, não... Você é muito grande, empurra os pequenos... Não, não, não... Você é muito forte, machuca os filhotes... Procure outra coisa para fazer.


Mas o pequeno coala não sabia de mais nada para fazer, não conhecia mais ninguém para brincar, e mamãe sempre dizia que era muito perigoso brincar com os demônios da tasmânia, ou pular com os cangurus e jamais o deixaria nadar com os ornitorrincos, aqueles bichos estranhos, os quais nem eles mesmos sabem se são aves, com seus ovos, bico e pés de pato, ou se são mamíferos por terem pelo e mamarem leite da mamãe ornitorrincos...


Mas esses eram todos os outros bichos que ele conhecia, e como não achava nenhum coala para brincar, e não podia brincar com esses outros bichos, com quem ele brincaria então?


Assim, sem ter muita escolha, ele estava sempre triste, triste em seu galho, próximo ao grosso tronco do eucalipto onde vivia...


Bem!


Em outra de suas viagens, Andora Viajandante encontrou outra criaturinha que lembrava muito o pequenino coala triste...


Essa tal criaturinha era um tamanduá... Um tamanduá-bandeira tão pequenino, tão tristonho e tão sozinho quanto Cody.


Tatá Tamanduá estava cansado de andar pela mata com sua mamãe, só aprendendo a enfiar a língua no formigueiro e se esconder de onças pintadas e lobos guarás:


- Ufa! – dizia ele, sempre chateado – Não quero ficar na mata só aprendendo coisas de tamanduá, mamãe, quero brincar!


Mas mamãe tamanduá achava que era perigoso e não o deixava brincar com os outros bichos:


- Ah, filhinho!!! Mamãe não quer que você se machuque. Logo vai perceber que é bem melhor ficar seguro com a mamãe...


E ele, Tatá Tamanduá, estava sempre entristecido a beira de um formigueiro ou de cupinzeiro, hora comendo só uma formiguinha, hora comendo só um cupinzinho e apenas quando tinha muita, muita fome.


Chegava à noite e Tatá Tamanduá olhava o céu das matas de seu Brasil e sonhava em fazer algo muito, muito diferente, enquanto de algum galho, próximo do tronco de um grande eucalipto, lá na Austrália, Cody Coala também desejava o mesmo...


Sabem?


Quando duas ou mais pessoas desejam muito alguma coisa e seus corações se enchem de tanta vontade que parece aumentar seu tamanho, o vento, a terra, as águas, as estrelas e todo o universo se movem, se mudam, se transformam e...


ADIVINHEM.


Os desejos se realizam de verdade!


Foi assim que naquela noite, lá na Austrália, em cima do galho, perto do grosso tronco do eucalipto onde vivia com sua mãe, Cody Coala teve um sonho muito, muito especial...


E foi assim, que lá nas matas brasileiras, Tatá Tamanduá também teve um sonho muito especial.


Sonharam que tinham encontrado um amigo.


AGORA, ADIVINHEM OUTRA VEZ, QUEM ERA O AMIGO?


Pois é isso mesmo!


Lá na Austrália, Cody Coala sonhou que tinha encontrado Tatá Tamanduá entre os eucaliptos de onde vivia...


Enquanto isso, lá nas matas do Brasil, Tatá Tamanduá sonhou que tinha encontrado Cody Coala...


Assim, quando se encontraram, se deram um sorriso desse tamanho e se apresentaram:


- Olá! Eu sou o Cody, Cody Coala... E você? Como se chama?


Tatá respondeu:


- Hum?... Oi! Eu... Eu sou Tatá, Tatá Tamanduá...


Cody foi logo se apressando:


- Então vamos brincar?


Mas Tatá ainda está confuso com a situação:


- Brincar?


E Cody continua todo afobado:


- É. Vamos brincar. Se não a noite termina, o sonho acaba e a gente não brinca... Vamos logo.


E eles foram brincar.


Correram, pularam e saltaram. Subiram, em árvores e conversaram muito, muito mesmo.


Contaram histórias. Contaram piadas e até contaram carneirinhos de nuvens, pois não sei se vocês já viram, mas à noite, quando está estrelado e com uma lua bonita no céu, se prestarmos atenção naquelas nuvens que viajam pelo céu, noite ou dia, podemos ver carneirinhos de nuvens saltitando aqui e ali, por sobre as estrelas...


Depois a noite terminou e o sonho acabou.


Junto à hora do amanhecer, era hora de bicho acordar e fazer suas coisas de bicho.


Diferente de todos os outros dias, Cody acordou todo animado e a mamãe, apesar de estar muito feliz com a novidade, estranhou:


- Ora filho! O que aconteceu? Viu passarinho verde, foi?


- Não, não mamãe. – disse Cody – Não vi não, mas encontrei um amigo...


A mamãe se preocupou:


- Ah, filho! Você sabe que os cangurus...


E ele interrompeu:


- Não, não mamãe! Não é um canguru.


Mas sua mãe ainda estava preocupada:


- Ai filho, os...


- Não, não! Não se preocupe. Meu amigo é um tamanduá...


A mamãe, com um sorrisinho zombeteiro, perguntou:


- Um tamanduá? Mas o que é um tamanduá, meu filho?


- Ora mamãe! Um tamanduá é um tamanduá... Um bicho lá das matas do Brasil. Um lugar muito, muito longe daqui... De depois do mar, ele me disse...


Mamãe coala já estava gargalhando:


- Mas filho, coma você conheceu um bicho lá de depois do mar?


- Ah, mamãe! Foi em um sonho.


Depois de tal resposta, mamãe coala parou de gargalhar e respirou aliviada. Depois exclamou:


- Que bom que esse sonho te deixou assim, todo alegrinho...


E ela deu um beijo bem gostoso e carinhoso na testa de Cody, entre suas orelhinhas de coala.


Nas matas do Brasil, o mesmo aconteceu.


Tatá acordou todo contente, surpreendendo a mamãe:


- Ora, ora filhinho! Quanto sorriso...


- Mamãe, mamãe... – se encolhe todo para falar, bem dengoso – Eu conheci um amiguinho!


- Oh Deus!!! Filhinho, filhinho! Que amiguinho é esse que você conheceu durante a noite, hein? Oh Deus... Oh Deus... É... É um lobo, filhinho? Ou é uma onça...


- Não mamãe... Não é nada disso. Eu conheci um coala...


- Coala? Que bicho é esse?


- Ah! É um bichinho que mora lá nas florestas de eucalipto, lá na Austrália.


- Austrália... Austrália... Não. Não conheço essa mata não.


- Hahahaha, que engraçada. – caçoa o tamanduazinho – Austrália não é mata não.


- Não? E o que é então?


- Austrália é um lugar que fica bem, bem longe. Depois do oceano...


- Hahahaha... – agora é a mamãe quem caçoa – E como é que o senhor conheceu alguém assim de tão longe?


- Ah mamãe! Foi em um sonho...


A mamãe tamanduá não disse nada, mas ficou pensativa e ainda preocupada. De onde será que seu filhotinho havia tirado essa idéia? Ele nem sabia que existia oceano até então! Bem! A mamãe tinha muito que fazer e acabou esquecendo o assunto.


Aquele dia foi tão custoso para os dois filhotes. Queriam que a noite chegasse logo, para sonhar um com o outro de novo, mas o dia vagaroso, vagaroso insistia em não se adiantar e...


...UFA...


Custou que custou, mas enfim a noite chegou e os filhotes trataram de dormir o mais cedo que puderam.


Durmiram a noite toda.


Nada de sonhos.


Nada de amigos...


Apenas dormiram e muito.


Na manhã seguinte, acordaram descansados, bocejaram, se esticaram gostoso... Mas logo se lembraram do amigo e que não haviam sonhado e ficaram tão tristes, mas tão tristes como nunca ficaram antes e até choraram, choraram de soluçar.


As mamães correram para saber o porquê de tamanha choradeira, mas quando souberam o motivo...:


- Ora essa! – disseram as duas, como se fossem uma só – Que bobagem! Tanta choradeira, por causa de um sonho...


Elas não entendiam. Não podiam, não conseguiam entender como aquela amizade de sonho podia ser tão forte, tão especial.


Mas os filhotes sabiam que era assim. Uma amizade grande e muito, muito especial.


A vontade que tinham de ficar juntos. A vontade de brincar, se divertir, se ajudar. Vontade de serem amigos para sempre era tão tamanha, Tão... Tão... Tão grande, que algo mágico aconteceu.


Desejaram com uma força tão grande, que...


Vocês sabem o que acontece, não é?


Quando duas ou mais pessoas desejam muito alguma coisa e seus corações se enchem de tanta vontade que parece aumentar seu tamanho, o vento, a terra, as águas, as estrelas e todo o universo se movem, se mudam se transformam e...


Cody Coala ouviu suspiros que não eram seus, então abriu os olhos um pouquinho e viu seu amigo Tatá Tamanduá todo encolhidinho perto de um formigueiro. Correu e deu um abraço no tamanduazinho, que levou um enorme susto e deu um salto para trás.


Ao ver se tratar do amiguinho, ele também abraçou o pequeno coala com muita força, mas rapidamente se puseram a brincar. Sabe lá quanto tempo a mágica duraria, não é mesmo? Mas foi aí que começou a confusão.


Mamãe coala viu o filhote conversando e brincando sozinho e gritou:


- Ah não! O pobrezinho ficou tão triste que ficou louco!


Cody ouviu e olhou assustado para a mamãe.


Tatá percebeu o assombro do amiguinho e perguntou o que estava acontecendo e a mamãe coala ficava cada vez mais preocupada.


Depois do primeiro susto, os filhotes não deram importância ao assombro da mamãe de Cody, e correram, e pularam e se divertiram como nunca, mas no fim da tarde todos os coalas se reuniram para falar da loucura de Cody:


-... O pobrezinho ficou tão sozinho que enlouqueceu...


- Temos de fazer com que as outras crianças passem mais tempo com ele...


- Ah não! Meu filho não vai brincar com um coala maluquinho.


A maioria convenceu seus filhotes coalas a brincarem com Cody, que ficou feliz da vida... Onde corria com os outros coalas, lá estava ele conversando com o “amigo invisível”. Se saia com os outros coalas a comer folhinhas de eucalipto, sempre oferecia também ao tal amigo invisível.


Entre um formigueiro aqui, um cupinzeiro ali, mamãe tamanduá também notou a estranhice do filho, mas quando se encontrava com alguém que indagava sobre a sanidade do filhote, a mamãe tamanduá explicava, toda compreensiva:


- Não há o que se preocupar. É só um amiguinho imaginário e eles se divertem muito juntos...


- Sei não, sei não. – diziam – Melhor levá-lo ao doutor macaco.


- Não. Não acho que seja necessário, mas talvez...


Mamãe tamanduá, enfim, percebeu o quanto seu filhote se sentia sozinho e teve uma ideia.


Naquela tarde mesmo, levou Tatá ao “Parquinho da Mata”. Lugar onde todos os filhotes da mata se encontravam. Onde brincavam de pega-pega, ciranda, bola... Tatá se divertiu muito, mas sempre dividindo suas brincadeiras e alegrias com seu amigo Cody Coala.


Algumas crianças achavam meio estranho ver o tamanduazinho falar sozinho, mas depois, acabavam fazendo de conta e também brincavam com o “amiguinho de lá de depois do oceano”.


A mamãe tamanduá, cada vez mais, se enchia de orgulho do seu filhote.


Mamãe coala levou o filhote ao Sábio Coala, que era o coala mais velho e mais sabido.


O Sábio ouviu a história da mamãe e ouviu o filhote dizer “BOA NOITE” para o amigo imaginário e aconselhou:


- Não há o que se preocupar. É só um amiguinho imaginário... Quando crescer um pouco mais, ele esquecerá tal brincadeira...


Bem!


O Sábio não era tão sabido assim. Pois o tempo passou e, tudo bem que quando ficaram adultos, não tinham mais tanto tempo para brincar e conversar um com o outro, mas, vez ou outra eles ainda se viam, ainda que só para dar um “BOA NOITE”.


E querem saber de mais um segredo que aprendi com a história que me contou o papagaio Loro, que ouviu da Andora Viajandeira?


Aprendi, e nunca mais esqueci, que quando nos sentimos sozinhos, basta fazer de conta... Fazer de conta e brincar com alguém, mesmo se não podemos ver, e com certeza, em algum lugar outro alguém também vai estar fazendo de conta e brincando comigo também. Assim, nunca mais fiquei triste por não ter com quem brincar.


E você? Também tem um amigo imaginário?


MARIA HELENA CRUZ http://ayram-contosfadas.blogspot.com GOSTOU? ENTÃO ME CONTA...

2 comentários:

  1. Lindo conto cujo tema faz parte do imaginário infantil! Legal! bjs,chica

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  2. Olá, adorei a postagem e adorei ainda mais seu blog, irei voltar mais vezes! =D
    Já estou seguindo seu blog, se possível siga o meu também, Obrigado!!

    http://curiosidadegerasaber.blogspot.com.br/

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